terça-feira, 27 de novembro de 2007

"Todas as vezes que nós brigamos a culpa não foi minha"

Primeiramente, gostaríamos de saber: quem é o culpado por iniciar uma briga? A resposta pode ser rápida e clara se formos pragmáticos: o culpado é quem se sente ofendido e ofende em resposta. O impulso, a causa inicial que dispara a fagulha pde ser de dois tipos: o intencional e o não-intencional. Por vezes dizemos coisas aparentemente inofensivas para nós sem nos dar conta da ofensividade do ato, já que a resposta ao impulso é completamente subjetiva nesse caso. Cabe ao ofendido decidir se tal insulto foi intencional ou não-intencional. Como, por exemplo, quando uma pessoa esbarra em alguém na rua ou no ônibus. É pouco provável que tenha sido intencional dadas as condições de pressa e aperto nos respectivos casos. Entretanto, uma pessoa num estado de mau-humor, numa fila ou num jogo de futebol, pode levar tal ocasionalidade como insulto intencional e acabar provocando uma briga. A tendência da pessoa que provocou o insulto é variada, também, pelo seu estado de espírito. Daí concluímos que a amenização ou obstrução da briga se dá quando, de forma lúcida, uma das partes decide abdicar do seu direito de resposta diante de uma causa maior: o bem-estar de ambas as partes. Tudo isso descreve o que podemos chamar de insulto não-intencional ocasional, isto é, o que acontece por acaso.


Entretanto, existe uma outra classe de insulto não-intencional de insulto não-intencional por neglicência. Esta classe de insultos se dá principalmente entre aquelas pessoas que se conhecem e convivem diariamente. Dada a convivência diária, além dos limites impostos sobre o ambiente de convívio e a privacidade de cada um, existem casos em que as pessoas sentem a necessidade de expressar sua opinião sobre escolhas e atos dos outros indivíduos motivados pelas mais diversas causas subjetivas. Por vezes, tais opiniões consistem em um insulto, interpretado como intencional ou não, forçando a pessoa ofendida a se defender de alguma forma para evitar tal sensação desagradável. É a sensação desagradável do insultado que domina nesses casos. Dado o contínuo convívio, cabe à pessoa que fez o insulto, apesar de não-intencionalmente, apaziguar a situação e evitar tais tipos de comentários. Não ter a sensibilidade para entender quais tipos de afirmações podem ser insultos, mesmo depois de uma certa convivência, consiste o núcleo do insulto por negligência. Apesar de ter sido avisado pelo insultado sobre o seu desprazer com o comentário, o insultador peca por não refletir sobre suas ações e evitar o conflito. Pode-se argumentar que o insultado é pessoa complicada, que tal tipo de opinião é muito branda e singela para ser taxada como insulto. Daí clama-se o apelo de ambas as partes. Se o objetivo do insultador é não nocivo, mas, pelo contrário, edificante e bondoso, este deve procurar outras formas de opinar sobre as ações do insultado de forma que este não sinta-se ofendido. Por outro lado, cabe também ao insultado ter a sensibilidade de perceber a não-intencionalidade do colega (ou interpretar dessa forma), e procurar refletir sua ojeriza diante de tal tipo de opinião e tirar conclusões amenas sobre o caso.

Em quaisquer dos casos acima de insulto não-intencional, fica claro que a extinção do conflito deve vir de ambas as partes. É difícil argumentar em linhas gerais quem seria o culpado neste tipo de briga, se o insultador, por achar seu comentário banal, ou se o insultado, por não refletir sobre a não-intencionalidade do insulto. Ambas as partes estão sendo egoístas nesse momento. Ainda mais, dado que a classificação de culpabilidade entre insultador e insultado é amplamente subjetiva, é egoísmo igualmente, perguntar-se quem iniciou a briga! Fazer-se tal questionamento é negligenciar a sensibilidade do próximo, sendo um ato que pode gerar até mais briga. Até mesmo na classe de insulto intencionais, pode-se argumentar que a pessoa insultada está sendo igualmente egoísta por não procurar apaziguar a briga e fazer o melhor para ambas as partes. Portanto, é realmente difícil saber quando se faz necessária a postura defensiva da parte insultada.

Na realidade, boa parte das brigas poderiam ser resolvidas se o insultado considerasse todos os insultos, mesmo os mais perniciosos, como edificantes. Que tem ele a perder com isso além do seu precioso orgulho? De fato, vários problemas sociais e políticos poderiam ser resolvidos se as pessoas engolissem seus orgulhos e simplesmente tentassem entender umas às outras, as idiossincrasias de cada ser. Por mais cético e ateísta que eu seja, não posso deixar de citar Jesus que estava muito certo em dizer: "Amai aos outros como a ti mesmo". Em face da briga, meu pai fez-me ver mais claro...

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