terça-feira, 21 de outubro de 2008

E como será?

Heita!!!! Acabou-se tudo!!!

Calma, tudo não...
Agora que todos que colaboram estão, de uma forma ou outra, desvinculados da graduação em física lá da UFPE, acho que esquecemos de postar, de escrever que existe algo depois da luzinha branca no fim do túnel.
Bem, que drama horrível! Mas e agora, meu pai? Bem, agora acho que talvez possamos postar mais ainda sobre o novo mundo de possibilidades que temos em vista, maior, ao menos, que aquele que surgia meio fosco no horizonte da iniciação científica...
Muito bem, o tempo é menor (ou não...) e você tem mais obrigações (ou inventa mais o que fazer), mas o importante é que a divulgação científica do blog (uau!) foi embora... Eu queria que voltássemos à ativa... Mas receio cair naquela velha conversa dos blogs antigos que vc entra lá e sempre tem alguém dizendo que em breve o blog estará renovado.
Mas é assim mesmo. Resultado da voluntariedade.

Abraço a todos e boa net!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Discurso de formatura, Bacharelado em Física 2008.1, por Tiago Souza





"Boa noite, senhoras e senhores aqui presentes, integrantes da mesa.

Hoje, nesta tribuna, eu tenho uma tarefa bastante difícil de ser cumprida: agradecer a todos os que contribuíram para essa conquista, fazer um honesto “mea culpa”, entre outras coisas, em menos de cinco minutos, que é o tempo regulamentar. Tentarei fortemente acabar antes que a musiquinha comece a tocar.

Iniciarei agradecendo aos amigos que estiveram presentes em todos os momentos da nossa vida, nos prestigiando e dando apoio sempre que necessário. Não poderia agradecer o suficiente pelo carinho de todos vocês. Esta é também a ocasião perfeita para pedir desculpas e também dar uma boa justificativa pela nossa ausência nos últimos anos. O curso de Física exige muita dedicação de nossa parte, estamos sendo sempre testados, e precisamos sempre estar muito acima das expectativas, que não são nem um pouco baixas – como prova, existem inúmeras fotos de noites viradas, em claro, estudando para as disciplinas. Mas como hoje vocês podem ver claramente, nós fizemos valer a pena todo esse tempo que estivemos distantes. Agradeço em nome de todos pela compreensão, pelo carinho, e por nunca ter nos deixado de lado, mesmo com nossa incompreensível ausência.

À minha turma original, sinto que hoje vocês não estejam em minha companhia, depois de todos os momentos juntos que tivemos. Mas não há o que temer: em seis meses vocês estarão aqui onde estou hoje, e eu estarei aí, batendo palmas e vibrando com seu sucesso. E não se iludam, seis meses passam voando. Saibam que vocês me proporcionaram momentos inesquecíveis, e serei eternamente grato por isso.

Aos amigos que comigo se formam hoje, digo que a princípio fiquei intimidado por não me formar com a minha turma original – até me dar conta que vocês naturalmente se tornaram uma grande parte de MINHA turma ao longo do tempo. Quem de vocês não se lembra de “Introdução à Óptica”, onde distante de boa parte da minha turma original, dividi as minhas noites em claro com vocês? Ou de “Laboratório de Física Moderna”, onde cada vez que um experimento dava errado – o que acontecia constantemente – e alguém tinha que ficar até tarde da noite refazendo todas as medidas, cantávamos alegremente um para o outro que hoje ficaríamos “Eu e você, você e eu, juntinhos!” no laboratório? Ou de Dinâmica Não-Linear, em que metade da turma chegou com mais de uma hora de atraso para a prova porque estavam todos em minha casa estudando na noite anterior e, bem, chegar na hora nunca foi o meu forte? Ou do desafio que foi pagar a disciplina mais difícil do Mestrado junto com todas da graduação, mas não sem o apoio incondicional de Rafael e Sobral? Ou de quando sentamos alegremente para fazer uma prova de Estado Sólido para sermos surpreendidos com um envelope pardo, com tirinhas de papel dentro que tínhamos que amassar e comparar com a variação de entropia diária de um ser humano? Vocês são meus heróis, isso sim. Eu poderia ficar a noite inteira aqui relembrando dos momentos que passamos juntos, e por isso quero que vocês saibam que para mim é uma grande honra compartilhar esse momento com vocês. Eliasibe, você é um cara iluminado, e seu esforço e companheirismo nunca serão por mim esquecidos. Sobral e Rafael, vocês dois são simplesmente destemidos e geniais – e um pouco loucos e inconseqüentes também. Agradeço por me incentivarem a ser um pouco louco, e preciso admitir que a experiência foi inesquecível. Meu curso não seria o mesmo sem vocês três, que junto comigo levaram o Diretório Acadêmico para frente, mesmo tendo consciência da tarefa monumental que isso seria. Tiago Nunes, brincar de “advogado do diabo” com você me fez crescer bastante, e espero que tenha feito você crescer bastante também (háháhá), e nossas discussões serão sempre relembradas com carinho – embora eu nunca vá torcer pelo Sport. Dibartolomei e Alan, eu queria ter a paz e tranqüilidade de vocês em época de provas: espero um dia ser uma pessoa tão amável e tranqüila como vocês. E Milena, Mileninha...você é uma macaca muito especial pra mim. Inteligente, bem-humorada e sempre a postos, seu espírito animador é contagiante. Eu só tive a honra de conhecer Ricardo e Bruno agora a pouco, durante a organização dessa colação de grau, mas tenho certeza que também se trata de duas pessoas maravilhosas. Mais uma vez, reitero, é uma honra para mim dividir esse momento com vocês.

Às namoradas e namorado, o nosso carinho pelo apoio incondicional. Não teríamos conseguido sem a força de vocês – vocês foram nossa fortaleza, e agradecemos entre outras coisas pelo ombro que nos consolou quando fizemos péssimas provas. A nossa indesejada ausência se justifica hoje, e em nome dos meus colegas que não têm namoradas fazendo física, aqui está a prova de que eles não estavam no bar da esquina tomando cachaça e paquerando as garotas que passavam rebolando. Isso tudo foi fruto da imaginação de vocês, e esse diploma vai por fim a esta discussão, combinado?

Aos nossos professores, muito obrigado por tudo. Vocês são pessoas maravilhosas. Aos excelentes professores, por conseguirem fazer coisas complicadíssimas parecerem tão simples e nos lembrarem do grande motivo que nos fez entrar nesse curso: que Ela, com “E” maiúsculo, é linda e faz o que quer – a nós, só resta pedir licença e tentar compreender os seus motivos. E se vocês se perguntaram “Ela quem?”, como Milena também certa vez perguntou para um desses excelentes professores, Ela é a natureza. Aos maus professores, agradeço por nos ensinarem a estudarmos sozinhos, a criar a tão desejada (e sempre necessária) independência. Vocês também têm parte no nosso sucesso. Aos orientadores pelo incentivo, e por estarem lá para nos segurar quando estávamos pra cair. Vocês são geniais, são mesmo. E aos professores homenageados, vocês não estão aqui por acaso. Sempre nos lembraremos de seus ensinamentos, e saibam que vocês realmente tocaram e mudaram nossas vidas, e merecem todo o crédito por isso.

Aos nossos familiares, esse dia é tão nosso quanto de vocês. Quando estávamos escolhendo o nome da turma, um dos nomes que surgiram durante o “brainstorm” foi “Eu devia ter escolhido Direito e feito mamãe feliz”. Mas na hora da votação esse nome foi rapidamente riscado da lista, pois concluímos que nenhuma das nossas mães teria ficado feliz se tivéssemos feito algo que não amamos. E foi unânime. Para um curso tão difícil, onde a perspectiva do futuro é nebulosa, isso é algo único. Nossas famílias nos apoiaram no momento em que decidimos nos aventurar nos mistérios da natureza, e por isso somos extremamente gratos. Em particular, eu agradeço a minha mãe e minha avó por terem me dado apoio em meu momento de fraqueza e me incentivado a fazer isso que amo, mesmo que tenha levando um tempo a mais para eu lograr êxito. E eu não poderia estar mais feliz hoje do que estou agora. É preciso muita coragem para decidir fazer Física, mas é preciso muita sorte para ter uma família que lhe apóie. E todos nós somos muito afortunados, e nesse momento precisamos agradecer. Tiveram aniversários que faltamos, casamentos que saímos mais cedo, churrascos, sushis e feijoadas em aldeia que perdi, celebrações que não pudemos comparecer devido ao curso que tínhamos escolhido, e que provavelmente não nos deixaria materialmente ricos – mas nossa família sabia que seríamos espiritualmente ricos e felizes, e isso era tudo que importava. A vocês também pedimos desculpas pela nossa ausência dentro de casa e em celebrações familiares. Mas, como disse para os nossos amigos, o dia de hoje mostra que fizemos valer muito bem todo esse tempo ausente, e estamos hoje colhendo os frutos de nossa dedicação. A vocês, pelo carinho, apoio, companheirismo e compreensão, o nosso muitíssimo obrigado.

Aos alunos de física que estão no início do curso, nossa mensagem de encorajamento: aparentemente, e ao contrário da crença popular, é possível sim se formar em Física – algo que imaginava ser impossível enquanto estava pagando Mecânica Geral.

Quando estava no quarto período - tá acabando, juro - quando estava no quarto período - juro - surgiu uma oportunidade de encabeçar a presidência do Diretório Acadêmico, a qual abracei, por achar que maior atenção deveria ser dada aos alunos que fazem parte do departamento. Estou muito orgulhoso, como estudante de física e como presidente da nossa gestão, de tudo o que fizemos. Os Colóquios Jrs ocorreram com freqüência impecável, com qualidade insuperável, alguns até com "comilóquio", e cativaram uma audiência importantíssima – aqueles que farão o futuro do D.A.. Hoje, alguns deles estão querendo fazer parte e ajudar a dar continuidade ao nosso trabalho, pois reconhecem a importância de expandir e melhorar as atividades para os estudantes da graduação. Como maior conquista, concretizamos a reforma de nossa sede.

O motivo pelo qual aceitei essa tarefa foi simples: eu sempre quis muito fazer a diferença. Eu ainda acredito num futuro mais bonito. Mas também acredito que esse futuro não virá se não lutarmos por ele. Às gerações futuras, resta a vocês dar continuidade a este trabalho importante, tornando a nossa parte no tripé alunos/professores/funcionários cada vez mais forte. Como diria o nosso professor homenageado Leonardo, “a viscosidade do sistema é altíssima”, mas sempre existirão desafios a serem vencidos, e precisamos tomar parte neles para que alguma mudança aconteça. Fizemos nossa parte, e agora é a vez de vocês.

Hoje, separamos os homens dos meninos – exceto Milena, que separou a mulher das meninas (háháhá). Estamos aqui por escolha, e nos formamos com muita dedicação e afinco. Mas afinal, porque escolhemos física?

Todos os grandes líderes da humanidade lutaram até lograr sua meta. Alcançar o que haviam elegido como felicidade, como fundamental para contínua busca. Buda renunciou a todo o conforto principesco para atingir a iluminação. Maomé sofreu perseguições e permaneceu indômito, até lograr sua meta. Gandhi foi preso inúmeras vezes sem reagir, fiel aos planos da não-violência e da liberdade para o seu povo. E Jesus preferiu a cruz infamante à mudança de comportamento fixado no amor.

A nossa escolha foi tentar entender como o mundo funciona, motivados pela nossa insaciável curiosidade. Na verdade, saímos com mais perguntas do que quando entramos, pois Ela, com “E” maiúsculo, nos prega peças, e não se mostra facilmente. Aprendemos, no entanto, a apreciar esse seu lado tímido, e sempre seremos insistentes, para quem sabe um dia, ela dar mole pra gente. E nesse dia, todo o esforço vai ter valido a pena, pois seremos um dos poucos no mundo que conseguiu tirar uma casquinha dela!

Nós, que juntos caminhamos até aqui, juntos iniciamos uma nova fase. E que venha o Mestrado, as listas, e a falta de tempo de novo. Por enquanto, repito as palavras mais do que apropriadas de Júlio César: “Veni, vidi, vici!”.

Muito obrigado a todos vocês pela atenção e pelo carinho, e espero que todos tenham uma ótima noite como eu estou tendo!

Obrigado!"

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Discurso de formatura, Licenciatura em Física 2008.1, por Rafael Alves



"Boa noite, senhoras e senhores aqui presentes, diretor do CCEN e demais integrantes da mesa.

Gostaríamos de relembrar alguns aspectos marcantes desses anos de graduação. Já no primeiro período, tivemos uma amostra do que seria fazer Física na UFPE. As fenomenais aulas do professor Marcelo Gomes na disciplina de Elementos de Física nas quais ele apresentou de modo simples, questões não triviais, como – por exemplo – calcular qual a maior altura que uma montanha pode possuir no planeta terra, como os antigos calcularam o raio da terra, usando apenas geometria... Explicando também alguns dos mais belos experimentos da física, como a experiência de Millikan. Essas abordagens nos levaram a romper definitivamente com as idéias que um aluno do ensino médio possui a respeito da Física. Ele nos levou a perceber a Física muito além de bloquinhos escorregando em planos inclinados.

Para completar as boas-vindas ao espetacular mundo da ciência, tivemos o professor Getúlio Bulhões que nos desafiou a não ser um aluno L1, L2, Ln, siglas que acompanham as disciplinas da licenciatura e muitas vezes são sinônimo de inferioridade e que nos rotulam como aluno de segunda classe. Mas quero que fique claro, o problema não é a sigla, mas a mentalidade daqueles que estipulam o nível a ser dados nesses cursos. A você Getúlio nosso muito obrigado por nos contaminar com a idéia de que podemos ser muito mais do que alunos L’s, mas sim verdadeiros físicos. Graças a você, que ousou ministrar Geometria Analítica 1 em um curso L1, posso olhar no rosto dos licenciados que aqui estão e ver profissionais capacitados a exercer a docência, mas também a não ter abortada a sua carreira de físicos-pesquisadores. Porque é isso o que um licenciado em Física é: um físico com todos os seus atributos, e ainda por cima com a nobre função de transmitir os conhecimentos de Física para um aluno de Ensino médio.

Aprendemos também com o professor Antenor, de Química LF2, a valorizar livros importantes para a formação básica de um físico. Ele fazia questão de nos aconselhar a respeito do Mahan.

Ao longo da graduação, principalmente a partir do 5º período, aprendemos as maiores lições que o curso de Física nos proporcionou, lições essas que não são a extremização da ação, a resolução da equação de Schrodinger e nem mesmo a tão importante resolução do oscilador harmônico nas suas mais diversas formas. As mais valiosas lições que tivemos foram a união, companheirismo e solidariedade. Aprendidas no decorrer de vários finais de semanas, feriados, madrugadas e demais momentos vivenciados a base de muitos biscoitos trelosos, fazendo as listas e estudando para as provas. Tudo isso nos levou a formar uma verdadeira família e não apenas uma turma. Foi esse espírito de família que nos levou a ajudar Sérgio a voltar de Taiwan para poder concluir seu curso, mas é uma pena que ainda faltou 25h para concluir sua carga-horária e, assim ele não pôde se formar conosco.

MAS... nem tudo foram flores. É importante ressaltar que além das dificuldades naturais existentes no curso de Física, a licenciatura ainda sofre com o descaso de grande parte dos professores do Departamento. Muitos não têm interesse de lecionar na licenciatura e usam as mais diversas desculpas para justificar isso. Dentre elas, a mais comum é que dar aula numa turma noturna irá prejudicar o seu rendimento como pesquisador, pois no outro dia pela manhã o “professor” terá que estar em seu laboratório. Acreditamos que é de fundamental importância mudar essa mentalidade, porque dar aula em um curso noturno não é prejudicar seu desempenho como pesquisador, mas investir em uma geração de novos professores que terão a missão de ajudar a nascer nos alunos de Ensino Médio novos pesquisadores.

Ora, se tivermos bons Físicos como professores de Ensino Médio com certeza poderemos transformar essa sociedade de burocratas em uma sociedade de cientistas. Físicos-professores terão condições de mostrar aos alunos de Ensino Médio que tanto a Física como as demais ciências não se resumem a fórmulas matemáticas que aparentam não dizer nada, ao contrário, a ciência nos permite desvendar alguns dos mistérios escondidos pela natureza.

Todos nós nos orgulhamos muito de ter feito um curso 5 estrelas num departamento nível 7 Capes, onde somos exigidos a sermos alunos nota 1000. Porém, a busca por todos esses índices impede que o departamento seja nota 10 em suas maneiras de avaliar os alunos, porque - às vezes - se preocupa muito mais com o número do que com o aluno em si.

Mas, não queremos ser injustos com aqueles professores que são comprometidos com a educação, independentemente do curso ser noturno ou diurno. Dentre eles, gostaríamos de expressar nossa gratidão aos professores homenageados nesta noite e outros que apesar de não estarem aqui serão sempre professores homenageados por nós, uma vez que devemos a eles parte importante de nossa formação, como os professores Marcílio e Brady.

Julgamos importante também honrar àqueles que foram nossas primeiras referência em Física: nossos professores do Ensino Médio. Acredito que todos nós temos algum nome que gostaríamos de agradecer, por isso agradeço aqui ao meu professor Ivan Santos, como se estivesse homenageando a cada professor do Ensino Médio que colaborou para a formação de cada concluinte que aqui está.

Agradecemos também aos funcionários Ary e Paula que tantos nos ajudaram em nosso curso.

Além disso, nossa maior gratidão é para Deus que nos ajudou nesta difícil caminhada e à nossa família que sempre nos apoiou.

Enfim, por tudo isso, queremos deixar nossos parabéns a todos os formandos, pois independentemente da média geral de cada um, todos nós somos vencedores e verdadeiros alunos nota 10!"

domingo, 15 de junho de 2008

Supostamente Conhecido

Acho estranho a situação quando se anda pelo mundo afora e então se encontra um camarada, supostamente conhecido, de óculos escuros. Primeiro não tem nem certeza se é a pessoa que você acha que é; depois, como fica sua cara se você falar e ele nem der atenção? Quer dizer, você sequer sabe se o camarada está olhando na sua direção...

Agora a novidade é o mp3 (4, 5, ...): a evolução do antigo e quase não funcional "Walk-Man*", digo que era não funcional porque nunca consegui fazer aquilo funcionar direito, tanto com as rádios quanto com a k7, rsrsrs - mas isto é um julgo de valor, é pessoal.

O cara está ali andando com o seu sonzinho no ouvido e você vê o camarada e grita de felicidade "Fulano de tal" e ele segue, como se nada tivesse acontecido, e nada aconteceu mesmo (rsrs). Complicado.

E ai quando eu vejo alguém de óculos escuros eu falo ou não falo no meio da rua? Eis a questão. Fico encarando e, se o cara não me (re)conheça, deve achar, caso esteja olhando em minha direção, que devo ter tendências homossexuais, quando na verdade a idéia é que sempre é bom (re)ver amigos antigos.

Alguém vai caminhar à tardinha e pensa: "porque não levar meu walk-man evoluído?" Depois acaba ainda protegendo seus olhos do sol quente, para quê ele comprou os óculos, afinal? Aí acabou! O cara correndo lentinho de óculos escuros e o ouvido ocupado: acho que não vai querer que ninguém interrompa seu passeio, ou seu esporte.
Me pergunto o que mais vai colaborar para que os seres humanos acabem se tornando, de fato, um gás de partículas não-interagentes...
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* Novidade pra mim: Walkman® é uma marca registrada e pertence à Sony Corporation. (fonte: wikipedia). O certo, então, é dizer: "tocadores de áudio".

quarta-feira, 30 de abril de 2008

O mundo assombrado por buracos negros

Houve uma época da humanidade em que as pessoas acreditavam em bruxas e feitiçaria. Justamente por crerem tanto nas lendas dessas mulheres, elas foram acusadas de hereges e queimaram nas fogueiras da inquisição. As pessoas também já chegaram a acreditar em dragões, em magia, no continente perdido da Atlântida e na cura pelo poder do pensamento. O mais incrível de tudo é que esta era da humanidade ainda não terminou e não tem previsão para terminar. Somos escravos de nossas crenças e desejos mais íntimos. O que seria dos escritores de ficção científica sem os ETs e dos livros de fantasia sem os duendes, magos e suas varinhas de condão? Este tipo de coisa não apresenta grandes problemas para humanidade quando existem em seu domínio apropriado de fantasia e potenciais inalcançáveis. Entretanto, quando fantasias começam a tornar-se crenças falaciosas por pessoas sem discernimento crítico da realidade, é necessário tomarmos uma posição diante de tal pseudociência.
Não é preciso irmos muito longe para notarmos que o mundo anda assombrado por demônios, título de um famoso livro do astrônomo Carl Sagan. Basta dar uma olhada no YouTube para vermos o que a criatividade humana é capaz de criar com computação gráfica e uma boa dose de pseudociência. Pois é, pessoal, nossos dias estão contados. A Terra será engolida por um buraco negro que será criado no maior acelerador de partículas do mundo, o LHC (Large Hadron Collider), em apenas poucos segundos... E agora, quem poderá nos ajudar?! A comunidade científica, é claro. Afinal, quem é mais gabaritado para destruir os monstros construidos com suas próprias ferramentas? Agora, se depender da mídia sensacionalista, estamos ferrados... Portanto, vamos tentar exercer uma interferência construtiva sobre esse assunto tão "Nostradâmico".
Para aqueles que não ouviram o boato, tem gente dizendo que um mundo vai acabar com um buraco negro engolindo a Terra. Este monstro gravitacional deve ser criado quando o LHC começar a funcionar. Por mais maluco que este boato possa parecer, ele tem um pequeno fundamento de verdade que, entretanto, foi mal interpretado por algumas pessoas e acabou se tornando mais um exemplo de argumento pseudocientífico. Pretendo desmistificar esse assunto com algumas informações científicas relevantes sobre o assunto.

1. Grandes Dimensões Extras. Primeiramente, a teoria que prediz a criação de mini buracos negros é uma extensão do modelo padrão one admite-se a existência de grandes dimensões extras (Large Extra Dimensions). A existência dessas dimensões extras permite que a gravidade seja mais forte em distâncias pequenas, consequência do caráter geométrico da gravidade. Isso faz com que o raio do horizonte de eventos de um buraco negro aumente e, como conseqüência, a massa crítica de formação diminua, permitindo que a acumulação de partículas elementares num pequeno volume do espaço formem um buraco negro. O que interessa de toda essa discussão é que precisamos dessas grandes dimensões extras para criação de mini buracos negros e estas não passam apenas de hipóteses não confirmadas por experimento algum até hoje. Outro problema, que também é um problema de teoria de cordas, é o do ajuste dos parâmetros de tamanho e forma das dimensões extras. Estes não surgem diretamente da teoria, mas são parâmetros livres, assim como as massas e cargas do modelo padrão. Portanto, existe um ajuste fino desses parâmetros que permite a formação dos buracos negros na escala de energia do LHC
e, caso não sejam observados lá, podemos simplesmente reajustar as constantes para aumentar essa energia. Esse grau de arbitrariedade põe em cheque a validade desse tipo de teoria.

2. Radiação Hawking. Na década de 70, Hawking mostrou num belo artigo que num regime semi-clássico buracos negros devem emitir radiação térmica (i.e. aquela de um corpo negro) com temperatura inversamente proporcional ao raio do buraco negro. Este resultado foi demonstrado por vários outros métodos diferentes do usado por Hawking e é uma das bases seminais da teoria quântica de campos em espaços curvos. Este resultado, apesar de não haver confirmação experimental, é uma conseqüência da junção de teoria quântica de campos com a relatividade geral e é amplamente aceito como verdadeiro na comunidade de gravitação quântica. Como conseqüência da conservação da energia, Hawking mostrou que esses buracos negros devem diminuir de tamanho até desaparecerem num tempo finito, um processo chamado de evaporação de buracos negros. Este tempo é da ordem de 10^-23 segundos para um buraco negro com diâmetro de 10^-18 metros. Assim, mesmo que buracos negros sejam criados no LHC, eles devem evaporar antes mesmo de alcançarem o detector! A única coisa detectável seriam os produtos desse decaimento. Pode-se questionar que a medida que o buraco negro engole matéria ele deve aumentar e prolongar seu tempo de vida. Entretanto, um buraco negro com uma seção de espalhamento de 10^-36 metros quadrados atinge em média 1 próton a cada 200 km. Dado que os prótons no LHC serão acelerados a velocidades muito próximas a da luz, este buraco negro seria criado em média com velocidade muito maior que a velocidade de escape da Terra, encontrando poucos prótons em seu caminho em direção aos confins do espaço... Mas, novamente, a taxa de evaporação dos buracos negros é muito mais alta que sua possível taxa de acreção de massa, sendo mais razoável esperar que ele evapore antes mesmo de interagir com a matéria.

3. Raios Cósmicos. Por último, mas não menos importantes, estão os raios cósmicos. A Terra está sendo o tempo todo atingida por partículas, provavelmente prótons, acelerados a velocidades extraordinárias chegando a energias da ordem de 10^19 eV, energia equivalente a produzida por 10 milhões de LHC's. O observatório Pierre Auger, localizado na sudeste da Argentina, foi criado justamente para observar estes raios criados pelo maior acelerador de partículas que o ser humano conhece: o próprio universo observável. É incrível que este fenômeno tenha passado despercebido por tantos anos! Uma descoberta recente do Auger foi a reconstrução da trajetória dos raios cósmicos com intuito de identificar a origem dos mesmos. Os dados sugerem que eles são criados nos objetos celestes chamados de AGNs (Active Galactic Nuclei) cuja origem ainda não está plenamente compreendida. Acredita-se que os AGNs estejam envolvidos com buracos negros, a manifestação gravitacional mais intensa que conhecemos. A grande lição que os raios cósmicos nos dão é que, se fosse para sermos engolidos por um buraco negro formado por colisões de partículas, já devia ter acontecido a alguns bilhões de anos atrás. Afinal, colisões bem mais potentes que as do LHC estão ocorrendo acima de nossas cabeças o tempo todo...

Sem mais delongas, é com muita tristeza que afirmo: é pouco provável que o mundo acabe engolido por um buraco negro no centro da Terra (a multidão lamenta: ahhhh...). Pois é, caros amigos e amigas, não poderemos ver cenas sensacionais como nossas casas sendo sugadas em milésimos de segundo enquanto teóricos defensores das dimensões extras se cumprimentam no seu vôo alucinante em direção ao centro do engolidor de planetas. De fato, seria uma cena bastante interessante, mesmo que mórbida.

É curioso e até mesmo natural que um boato dessas proporções tenha sido disseminado tão rapidamente. Entretanto, é preocupante o fato de que este boato não é recente. Ele surgiu em 1999, no contexto de um outro acelerador de partículas que estava sendo completado. O ceticismo científico é o mesmo desde do surgimento do boato até seu reaparecimento em 2008. Tudo isto é um resultado preocupante do tipo de sociedade da informação que estamos criando, preocupação central do livro de Carl Sagan citado no início do texto. O ceticismo, base da ética científica (ou método científico, como queira), não faz parte da metodologia de pensamento ensinada nas escolas. Estamos vivendo uma era de acesso à informação nunca antes visto e, como é o caso do presente texto, de produção de informação pelos indivíduos. Quantos são os líderes que ainda hoje se consultam com videntes sobre decisões cruciais de governo? Quantas são as pessoas que se entregam a dados falaciosos, a crenças intransigentes e inflexíveis baseadas em dogmas emocionais? Concordo com Sagan quando ele diz que a ciência aparenta ser uma pequena vela acesa no meio da escuridão assombrada por demônios criados pela própria mente humana. Nós, futuros cientistas da nova geração, devemos ter essa preocupação para que a nossa realidade não acabe assombrada por buracos negros da ignorância...

Referências:
Back Reaction - Blog da Sabine Hossenfelder
Site do LHC
Artigo sobre Teoria de Cordas no LHC