terça-feira, 27 de novembro de 2007

"Todas as vezes que nós brigamos a culpa não foi minha"

Primeiramente, gostaríamos de saber: quem é o culpado por iniciar uma briga? A resposta pode ser rápida e clara se formos pragmáticos: o culpado é quem se sente ofendido e ofende em resposta. O impulso, a causa inicial que dispara a fagulha pde ser de dois tipos: o intencional e o não-intencional. Por vezes dizemos coisas aparentemente inofensivas para nós sem nos dar conta da ofensividade do ato, já que a resposta ao impulso é completamente subjetiva nesse caso. Cabe ao ofendido decidir se tal insulto foi intencional ou não-intencional. Como, por exemplo, quando uma pessoa esbarra em alguém na rua ou no ônibus. É pouco provável que tenha sido intencional dadas as condições de pressa e aperto nos respectivos casos. Entretanto, uma pessoa num estado de mau-humor, numa fila ou num jogo de futebol, pode levar tal ocasionalidade como insulto intencional e acabar provocando uma briga. A tendência da pessoa que provocou o insulto é variada, também, pelo seu estado de espírito. Daí concluímos que a amenização ou obstrução da briga se dá quando, de forma lúcida, uma das partes decide abdicar do seu direito de resposta diante de uma causa maior: o bem-estar de ambas as partes. Tudo isso descreve o que podemos chamar de insulto não-intencional ocasional, isto é, o que acontece por acaso.


Entretanto, existe uma outra classe de insulto não-intencional de insulto não-intencional por neglicência. Esta classe de insultos se dá principalmente entre aquelas pessoas que se conhecem e convivem diariamente. Dada a convivência diária, além dos limites impostos sobre o ambiente de convívio e a privacidade de cada um, existem casos em que as pessoas sentem a necessidade de expressar sua opinião sobre escolhas e atos dos outros indivíduos motivados pelas mais diversas causas subjetivas. Por vezes, tais opiniões consistem em um insulto, interpretado como intencional ou não, forçando a pessoa ofendida a se defender de alguma forma para evitar tal sensação desagradável. É a sensação desagradável do insultado que domina nesses casos. Dado o contínuo convívio, cabe à pessoa que fez o insulto, apesar de não-intencionalmente, apaziguar a situação e evitar tais tipos de comentários. Não ter a sensibilidade para entender quais tipos de afirmações podem ser insultos, mesmo depois de uma certa convivência, consiste o núcleo do insulto por negligência. Apesar de ter sido avisado pelo insultado sobre o seu desprazer com o comentário, o insultador peca por não refletir sobre suas ações e evitar o conflito. Pode-se argumentar que o insultado é pessoa complicada, que tal tipo de opinião é muito branda e singela para ser taxada como insulto. Daí clama-se o apelo de ambas as partes. Se o objetivo do insultador é não nocivo, mas, pelo contrário, edificante e bondoso, este deve procurar outras formas de opinar sobre as ações do insultado de forma que este não sinta-se ofendido. Por outro lado, cabe também ao insultado ter a sensibilidade de perceber a não-intencionalidade do colega (ou interpretar dessa forma), e procurar refletir sua ojeriza diante de tal tipo de opinião e tirar conclusões amenas sobre o caso.

Em quaisquer dos casos acima de insulto não-intencional, fica claro que a extinção do conflito deve vir de ambas as partes. É difícil argumentar em linhas gerais quem seria o culpado neste tipo de briga, se o insultador, por achar seu comentário banal, ou se o insultado, por não refletir sobre a não-intencionalidade do insulto. Ambas as partes estão sendo egoístas nesse momento. Ainda mais, dado que a classificação de culpabilidade entre insultador e insultado é amplamente subjetiva, é egoísmo igualmente, perguntar-se quem iniciou a briga! Fazer-se tal questionamento é negligenciar a sensibilidade do próximo, sendo um ato que pode gerar até mais briga. Até mesmo na classe de insulto intencionais, pode-se argumentar que a pessoa insultada está sendo igualmente egoísta por não procurar apaziguar a briga e fazer o melhor para ambas as partes. Portanto, é realmente difícil saber quando se faz necessária a postura defensiva da parte insultada.

Na realidade, boa parte das brigas poderiam ser resolvidas se o insultado considerasse todos os insultos, mesmo os mais perniciosos, como edificantes. Que tem ele a perder com isso além do seu precioso orgulho? De fato, vários problemas sociais e políticos poderiam ser resolvidos se as pessoas engolissem seus orgulhos e simplesmente tentassem entender umas às outras, as idiossincrasias de cada ser. Por mais cético e ateísta que eu seja, não posso deixar de citar Jesus que estava muito certo em dizer: "Amai aos outros como a ti mesmo". Em face da briga, meu pai fez-me ver mais claro...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Nem 8 nem 88...

Caro Domingos, eu até que não arranjei tanta confusão por escrever; por sentir falta, vou cair no erro de discutir religião...

Estava aqui a ler e reler postagens e comentários e lembrei que havia prometido responder à postagem "E a Morte" que Eliasibe escreveu pelo dia de finados (para ver, a promessa está listada entre os comentários). Minha última postagem escrevi depois de ler algo que eu não concordava tanto e queria colaborar na discussão. Agora venho em missão idêntica.
Aconteceu que um de nossos colegas de departamento comentou a postagem de Eliasibe com uma ênfase tão grande que não deixei de tentar ver as coisas dos dois lados da moeda. Mas a postagem de Eliasibe nem teve tanto cunho religioso quanto aparentava ao leitor do comentário. Pregação? aff e olhe que eu quase odeio isto! Mas de pregação houve nada(...)! Eliasibe disse apenas que a religião tem alguma importância.

A ciência tem como objetivo estudar a natureza em todos os limites termodinâmicos (rsrs, é que acabo de sair de uma prova de mecânica estatística). Não podemos taxar eventos sobrenaturais como sobrenaturais, a meu ver, se não tivermos pleno conhecimento prévio dos comportamentos que a natureza tem sobre estas circunstâncias. Quem não teria antes dito que a supercondutividade não seria um fenômeno sobrenatural? Aliás, por muito tempo filósofos atribuíam alma à magnetita e aos objetos eletrizados, estou errado?
Eliasibe foi equivocado, eu concordo, em dizer que a ciência não ajuda em assuntos referentes à morte e à consciência, a existência do espírito, etc... A ciência não objetiva estudar estes eventos. Aliás, muitos cientistas terminaram suas vidas pesquisando estes temas (lembro de ter lido a tempos atrás que Sir Isaac Newton escreveu livros de cunho religioso e no final da vida se reservou apenas a religião - Filmes relatam sua participação em organizações religiosas por acaso?) sem, no entanto, misturar com o estudo objetivo da natureza e, quando misturavam, esta colaboração era espontaneamente rejeitada.
A religião, em relação à ciência, tem um papel relativamente diferente: confortar a alma da criatura de alguma maneira, mesmo que seja com uma filosofia barata como em muitos casos. A ciência tem uma responsabilidade diferente: de ser objetiva, reproduzível e representar a natureza. Mas o homem é apenas um, tem apenas uma mente e deve organizar tudo de forma coerente. Suas crendices religiosas e suas crendices científicas (porque tem muita coisa na natureza que se acredita sem questionar, também!) devem estar em acordo e, sinceramente, eu procuro que as MINHAS estejam (pelo menos em minha mente).
Descartes era um cara sábio, embora um tanto antisocial. No "Discurso do Método" ele nos introduz o método científico, mas é nas "Regras para a Direção do Espírito" que as regrinhas do método são nitidamente encontradas. O cara duvida de tudo, pois não pode provar nada sem ter antes que conceber algo que alguém o tenha dito antes (a informação está verdadeira?) em seguida ele percebe que tudo pode estar errado e pode tudo ser uma grande farsa (até a própria existência). Assim ele concebe que não pode duvidar que ele está duvidando, ou seja, que ele está pensando. Então tem algo que é verídico: a dúvida existe. Ele logo induz que deve haver, necessariamente, alguém que está tendo a dúvida, alguém que a pensou. Logo se ele pensa, ele deve existir... Até aí nada de novo, mas o que quero destacar é que imediatamente depois de uma discussão semelhante à exposta ele procura PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS usando o seu método indutivo-dedutivo!!! Ele também achava que suas crendices religiosas não deviam entrar em desacordo com suas crendices científicas (chegando ao ponto de misturar os temas).
Religião o que é? Me peguei pensando nisto principalmente quando imaginava uma maneira de aumentar a carga horária de física nas escolas do ensino médio, pois no meu tempo havia uma disciplina com esta nome e ela tratava de coisas sociais, de formar um cidadão respeitador que esteja ciente de seus direitos e deveres e que se mobilize para garantí-los. Religião, em minha concepção, é algo muito mais grandioso que ir à igreja e acreditar em (D-d)eus(es): é acreditar nas outras pessoas, no social, nos feitos e desfeitos das outras pessoas; é se conceber como parte de um todo na humanidade e participar. Religião é uma forma de vida... Mas, senhoras e senhores, o que é a ciência senão isto? É uma filosofia que acreditamos que esteja correta porque nos provaram (...), mas uma religião que prova tudo o que diz deixa de ser religião? Acho que viver de domingo a domingo no departamento de física nas semanas de provas e rejeitar, por este motivo, milhares de convites de eventos e distrações é uma forma de vida também. É a forma de viver de muitos cientistas, é algo religioso...
A verdade... A verdade é o problema de tudo. Os cientistas provam as coisas, seguram "com as mãos" e chegam até a controlar localmente a natureza para verificar suas teorias; eles sabem que aquilo é verdade: vêem e sentem com os próprios sentidos. Os religiosos crêem com fé inabalável, irracional (ou não) e percebem que recebem os frutos de uma vida tranquila; eles sabem uma verdade. O problema é que os cientistas ficam deprimidos quando sabem que milhares de outras pessoas não se interessam em ver e sentir o que eles sabem e sentem e os religiosos ficam loucos para mostrar toda a grandiosidade da vida que levam a todos. Acabam não se batendo... Os religiosos afirmam que os cientistas são orgulhosos que se crêem acima de todos (não notando eles, porém, que esta afirmação só poderia sair de um orgulhoso que se crê acima dos outros...) e os cientistas desprezam os religiosos porque eles são endurecidos às observações óbvias e às engenhosas racionalidades que o homem pôde construir (sem notar contudo, que suas vidas muitas vezes são regidas por uma correria grande e um mata-mata [de quem chega a obter um efeito antes] que nunca aproveitam o que constroem eles mesmos em suas vidas; eles privilegiam o estudos das grandes e complicadas coisas fechando, diversas vezes, os olhos para as pequenas e simples coisas da vida; ficam endurecidos às coisas religiosas...). Nem 8 nem 88, please!
Espero que tenha chegado ao ponto, devido à coerência, de poder dizer que religião é essencial ao ser humano, embora tive que alterar o sentido fragilizado e comum dado à palavra... Essencial tanto quanto ciência, digo agora. Por que não se discute religião? Porque compreende modos normais de vibração de cada pessoa e cada um tem o seu! Porque inclui gostos e formas de ver que dependem da experiência prévia de cada um e isto é pessoal: religião é pessoal. Ninguém tem a mesma e exata concepção sobre qualquer que seja a idéia, ninguém pode ter a mesma religião neste sentido. O que vemos e que chamamos de igrejas e seitas e doutrinas nada mais é que o campo externo H que "magnetiza" as pessoas de forma que as idéias para elas fiquem o máximo possível alinhadas, o máximo possível igualmente distribuídas. Mas existe um campo intríseco devido principalmente aos "vizinhos mais próximos" que também participa do hamiltoniano total do sistema... Esta influência da interação "pessoa-pessoa"(analogia com a interação dipolo-dipolo) pode ser diminuída tanto quanto podemos chegar ao zero absoluto de temperatura, ou seja, sempre existe uma interação nossa, pessoal e intransferível. Note que existem várias formas de interagir com o campo externo H!! Você pode ser uma criatura "diamagnética" e rejeitar influência do campo, magnetizar-se-á em outro sentido; ou você pode ser uma criatura "ferromagnética" e se magnetizar aumentando o campo externo. Existem ainda algumas outras formas de interagir com ele... Assim você pode rejeitar a idéia que as igrejas lhe oferecem, entrar e participar propagando a doutrina ou pode interagir de outras formas.
Eu poderia, antes de escrever este texto que até ficou grandinho, simplismente ter ignorado o comentário de nosso amigo do DF como eu aconselharia, por sinal; mas o tema me interessa (deu pra notar?) e eu queria dar meu parecer sobre estas coisas. Na verdade este é um motivo meio distorcido, porque a verdade é que achei o comentário muito forte para aquela postagem que me pareceu algo do tipo "ah! não vamos deixar o dia de finados passar em branco...". No ensino médio minha professora de religião (ou terá sido de filosofia? se eu me lembro disso deve ter sido das duas matérias, rsrs) me disse que havia duas formas de criticar (ah! me lembrei, a professora de português também chegou a comentar): uma destrutivamente e outra construtivamente... Rapaz, no comentário houve até uma sugestão de suicídio!!! Isto não é, certamente, uma forma construtiva de se criticar... Acho que o nome do blog deixa bem claro quais as interferências que queremos ter aqui. Venho solicitar que este nome sabiamente e democraticamente escolhido venha ser considerado desde então.
Agora pra finalizar ao estilo Fábio: É provável que você leia o meu texto e se "magnetize" com ele. Mas a probabilidade que seu comportamento seja "diamagnético" ou "ferromagnético" depende de sua religião, rsrs.
Grande abraço a todos.

domingo, 18 de novembro de 2007

Seguindo a Canção

Na última linha do meu post anterior eu disse: "Mas talvez também seja igualmente provável que alguém venha a discordar dele (do post)...". O texto abaixo é uma comprovação das minhas expectativas :) Ótimo texto, por sinal. Novamente, um Tiago vem e toma a frente. E, novamente, venho eu a seguir a canção... (Ad infinitum?)

Pois bem, estou aqui para esclarecer o que eu quis dizer com "controle" no meu texto. Basicamente, eu disse que mais informação significa menos controle do indivíduo sobre essa gama de informações e não sobre como a informação disponível pode ser usada para "controlar" os desejos das pessoas. Pois é, essa interpretação apresentada no texto de Tiago veio por dois motivos, creio eu: pelo caos e pela minha falta de controle. Falta de controle, pois eu não explicitei corretamente o que eu queria dizer (coisa provável dada a quantidade de pensamentos na minha cabeça na hora e, também, na quantidade de sono) e, dada essa falta de controle, o "caos" da cabeça de Tiago, ou seja, sua criatividade, o fez escrever este belo texto abaixo. Além disso, com controle eu quis dizer gestão da informação, isto é, seleção do que se lê, do que se ouve e do que se vê. Enfim, coisa que todo ser humano faz normalmente. Mais controle significa refinar essa gestão para descartar conclusões logicamente inconsistentes e até mesmo as consistentes sem aparente referente real (leia-se "besteiras" e vide texto de Domingos abaixo). Mais controle significa saber classificar melhor a informação para que possamos avaliá-las nos seus devidos contextos ou, até mesmo, extendê-las para que funcionem em outros contextos. Por fim, mais controle significa uma postura crítica diante das informações recebidas e, a meu ver, este é um dos principais objetivos do que chamamos de educação. Portanto, no sentido acima descrito, educação é controle.

Em suma, o que eu quis dizer com a minha ressalva sobre a visão otimista do mundo tem conseqüências similares à conclusão do post logo abaixo. Não adianta haver mais "estados acessíveis" se não há uma melhor gestão da informação, i. e., se não há educação. Realmente, hoje em dia há menos controle social, no sentido que Tiago falou, e, assim, o "caos" permite que um ou outro gato pingado possam melhorar sua condição econômica e social. Entretanto, essas flutuações só fazem sentido quando há controle individual no sentido exposto acima. Quando, por exemplo, uma pessoa pobre, por influência da escola e de programas sociais, tem contato com pessoas que lhe fazem ter mais controle sobre sua vida e sobre seus estudos, que lhe mostram que se ela controlar seus impulsos para as drogas e para o crime ela terá uma vida melhor, que ela deve usar camisinha, etc. Isto é simplesmente a base daquilo que chamamos vida. Vida é uma inesperada ordem (controle) acima do caos (desordem). A vida é a demonstração que mesmo sistemas bastante complexos, aparentemente caóticos (desordenados), têm uma ordem implícita. Esta ordem exige gasto de energia e, portanto, exige controle. Agora, até que ponto somos conscientes e senhores desse controle é uma questão muito relevante para as pessoas que pesquisam a origem e os caminhos da vida. Tais fatos não contradizem a 2ª lei da termodinâmica, pois o que importa é que a entropia não aumente em sistemas isolados. No nosso cérebro e no nosso corpo ela pode diminuir, pelo menos localmente. O problema é que à medida que se organiza num lugar, em outro tende a se desorganizar (dissipação de energia).

Dadas essas considerações, uma visão otimista do mundo é razoável se for uma tendência natural do nosso cérebro (leia-se seres humanos) tender a preservar a espécie. Vale ressaltar que quando nós falamos sobre o mundo caminhar para um lugar melhor significa um lugar melhor para todos os seres humanos. Só que isso não é tão claro para a cabeça de alguns seres humanos que detêm o controle político, mas não necessariamente o devido controle mental (leia-se George W. Bush). Portanto, se a tendência natural da maioria dos seres humanos for lutar contra as injustiças, lutar contra a desinformação e em favor de uma gestão crítica da informação, estamos salvos e a tendência à desordem do mundo será benéfica no sentido que as pessoas naturalmente farão as melhores escolhas. Mas, e se isso não for verdade? Vamos esperar sentados? Faz parte dessa dúvida sabermos e discutirmos qual o melhor caminho que o mundo deve tomar. E isso exige controle e exige crítica aos outros e a nós mesmos. Essa é a base da democracia, aceitarmos as críticas dos outros e analisá-las para que possamos fazer nossa auto-crítica. Nesse sentido, democracia também é controle. E é justamente isso que estamos fazendo aqui agora neste blog: exercendo nosso direito de concordar, discordar e, principalmente, de somar. Novamente, essa é a base da democracia e da soma caótica de nossos seres: os otimistas e os pessimistas (ou seja, todo mundo). No final, espero que essa soma convirja para a continuidade pacífica da espécie.

Concluo este meu texto com uma idéia que vi pela primeira vez no colóquio que homenageou os 60 anos do Prof. Maurício Coutinho, grande cientista e um dos principais responsáveis pela existência do nosso atual departamento de Física. Apesar dos pesares, ele é um sujeito a quem devemos prestar homenagens. Maurício citou que sua maneira de encarar a vida é muito parecida com a expressada por Norberto Bobbio, filósofo político italiano, ativista do social-liberalismo, que dizia mais ou menos os seguinte: "o “homem de Razão” tem o dever de ser pessimista (o pessimismo temeroso da inteligência) e o “homem de Ação” tem a obrigação de ser otimista (o otimismo esperançoso da vontade)" (adaptado de Gramsci e o Brasil). Portanto, eu não creio que o mundo vá se tornar um lugar melhor por mera estatística. Eu tenho uma certa esperança que o mundo se torne um lugar melhor, mas prefiro acreditar que o mundo só vai tomar esse caminho se agirmos de forma compatível com essa esperança. Portanto, prefiro ser intrinsecamente crítico em vez ficar especulando se a coisa naturalmente andará para onde eu gostaria que fosse. Muitas vezes as pessoas confundem sonhos com realizações. Na prática, apesar dos textos, acredito que vocês, meus amigos, principalmente o pessoal do D. A. que está trabalhando para melhorar a realidade do nosso curso, são críticos e agem com otimismo. Não importa tanto em como você acredita na idéia se você a põe em prática.

Pra finalizar, deixo uma frase do filósofo grego Aristóteles e, com ela, fecho um ciclo voltando ao que Domingos disse no seu último post e à idéia inicial de Tiago Aécio quando dizia que na média tomamos escolhas certas. Na média, faremos o mundo um lugar melhor desde que ajamos em ressonância com o seguinte pensamento:

"Excelência é uma arte conquistada pelo treino e pelo hábito. Nós não agimos certo porque temos virtuosidade ou excelência, mas preferencialmente as temos porque agimos certo. Nós somos o que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um ato isolado, mas, sim, um hábito.”

Façamos, então, este tipo de discussão crítica um hábito!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Caminhar do Mundo...

Seja S a entropia de um sistema, K a constante de Boltzmann e W o número de estados acessíveis deste sistema...
S = K ln W
(A entropia cresce logaritmicamente com o número de estados acessíveis)

Bem, chego timidamente e receosamente (visto que as postagens anteriores foram grandiosas) para discutir a deixa de Fábio sobre o caminhar do mundo. Às vezes creio que os tempos anteriores eram diferentes: muito mais organizados, muito mais interessantes onde a população era mais respeitosa e coisa e tal; mas refletindo bem, depois de uma poderosa conversa no blog sobre estatística, imagino como as coisas foram de fato: organizadas e muito mais respeitosas que hoje (rsrs)... Mas o que pretendo aqui chamar atenção é que a atualidade está certamente muito melhor que outrora.

É certo que "é mais fácil soltar bombas em outros países, acreditar em coisas falsas e é mais provável nos contradizermos, pois há muito mais informação acessível do que antigamente e mais informação significa maior complexidade e menos controle". É isso mesmo! Isso se chama Entropia!!!! O sistema está mais caótico que antigamente e isso é uma lei da natureza, tem que ser assim...

Podemos fazer alguma previsão para o futuro? O futuro é mais caótico que hoje, certamente... Mas esta frase influencia a mente de leitor. Mais caótico significa que criaturas com condições iniciais muito próximas podem chegar a lugares muito diferentes (podem se afastar exponencialmente). Antigamente, nasceu escravo morreu escravo... Mais caótico é melhor!

Foi citado que as informações estão mais acessíveis, aqui creio certa a maneira de encarar a idéia (fazendo o resumão): o número de estados acessíveis aumentou (e seu logaritmo aumenta junto, rsrs ) e isso certamente é algo bom. O caos, o número de estados acessíveis, a entropia aumentou e isso significa que temos muito mais opções que antigamente e temos mais probabilidade de atingir pontos remotos às condições da vida atual.

Mas e o controle? A idéia do controle não é fundamental e muito menos democrática. A democracia respeita o cidadão e todas as suas escolhas (desde que não interfira destrutivamente com a vida dos outros - bem... É por aí!!) e não tem interesse, ao menos como idéia, de controlar as coisas. Seria ingenuidade dizer que controle não é importante, principalmente na atualidade; mas penso que controle não é importante ao menos em uma sociedade futura muito mais caótica, onde não se tem interesse de restringir a acessibilidade de algum cidadão.

A veridicidade depende do querer saber. Se você quer de fato se informar sobre alguma (não dada) informação você deve pesquisar e procurar entender as leis que regem a dinâmica da idéia, não simplesmente aceitar. Mas o querer depende da educação, pois as pessoas precisam entender o funcionamento das coisas e saber porque querer o que se quer, não meramente querer por querer e a educação ainda resolve o problema do respeito... O que queria destacar é que a democracia estaria se desenvolvendo muito mais se deixasse de investir no controle e na estabilidade das massas e investisse em educação (mas aí vem Messias e pergunta sarcasticamente: "Educação não é controle?", creio que depende da intenção do educador, mas deixemos esta discussão para depois) para toda a população, haveria tendência a um equilíbrio térmico e o caos esclarecido poderia ser a solução de todos os problemas sociais.

Ei, Sobral!

Perdeu.

E uma Brincadeira...

Eu quero a postagem coesa mais curta!

domingo, 11 de novembro de 2007

Nada, absolutamente nada é estatístico

Começo este post dizendo que o título, antes de ser uma provocação, pretende ser uma reiteração e aprofundamento da idéia de Tiago. Afinal, acho que o texto está ótimo e a idéia dele sobre a realidade é até certo ponto correta. Entretanto, logo que terminei de ler o longo texto, comecei a pensar um pouco sobre tudo ser estatístico e gostaria de compartilhar minhas idéias com vocês. O post de Tiago fez-me refletir sobre a fundamentação da realidade. Para manter o espírito de contradição, pretendo não ser breve.

A idéia central da argumentação e do insight sobre a realidade física de Tiago é que existem limites intrínsecos nos instrumentos de medida usados pelos seres humanos. Isto é confirmado pelo próprio método científico, que não se dá ao luxo de fazer apenas uma medida justamente por causa das comentadas flutuações estatísticas, mas só considera resultados dentro de margens de erro mínimas. Atualmente, a teoria mais precisa neste sentido é a Teoria Quântica de Campos, que prediz resultados que chegam à precisão de cerca de 1 parte por billhão. Eu acredito que, chegando a esta margem de erro, podemos dizer que a teoria, pelo menos efetivamente, está correta. Entretanto, os errinhos originados pelas flutuações provavelmente (!) estarão sempre lá.

Tudo isso é muito bonito, a teoria é bastante precisa, mas nos restam as perguntas filosóficas que Tiago falou. Uma delas é: qual o verdadeiro sentido de termos criado esta teoria? Obviamente, a resposta está na cara: para descrevermos a realidade. Nesse ponto temos uma escolha a fazer, nos contentarmos com uma teoria efetiva, que é válida dentro de um limite de aplicabilidade, ou tentarmos continuar nosso trabalho e acharmos uma teoria mais fundamental (ou A teoria fundamental). Qual a nossa escolha? Continuar, é claro, pois senão perdemos o emprego (na verdade, a profissão deixaria de existir). Por mais que grandes mestres digam: "olha, não adianta, a quântica diz que tudo é mesmo meio incerto, deixa pra lá", nós, jovens físicos, teimamos em continuar para mostrarmos que podemos fazer mais do que eles fizeram. E assim seguimos nossas vidas criando mais dimensões (e, depois, compactificando-as).

Para podermos inventar uma teoria mais fundamental precisamos, em suma, de apenas dois requerimentos. Primeiro, a teoria deve englobar todas as outras que conhecemos e dão certo e, segundo, essa teoria deve predizer algo a mais que não é conseqüência das outras. Ou seja, precisamos ampliar nosso escopo lógico-teórico chegando até mesmo a substituir os axiomas antes vistos como fundamentais por outros. Dito isto, pegue as duas teorias mais avançadas que temos atualmente, a Relatividade Geral (RG) e a Teoria quântica de Campos (TQC). Essas teorias têm limites de aplicabilidade diametralmente opostos. Uma se preocupa com fenômenos de larga escala, até mesmo da ordem do tamanho do universo, enquanto a outra se preocupa com fenômenos microscópicos da escala dos átomos. Então, você se pergunta, quando é que faz sentido juntar as duas? Resposta: Quando o espaço estiver contraído o suficiente para as partículas começarem a sentir a gravitação. Afinal, você não espera que o elétron com sua massinha de 10^(-28) se preocupe com a atração gravitacional do próton que tem uma massa cerca de 2000 vezes maior. Só por curiosidade, a partícula elementar mais massiva que conhecemos é o quark Top que tem cerca de 1,7 Gev ~ 10^(-25) que é igual a cerca de 3000 vezes a massa do elétron. São duas as situações que nós conhecemos onde os efeitos de gravitação quântica devem se manifestar: no big-bang e num buraco negro. Legal, mesmo que consigamos criar uma teoria que tenha as duas como caso particular, tá meio difícil de comprová-las experimentalmente. Ainda não chegamos num nível tecnológico capaz de criar um buraco negro em laboratório... É uma pena. Mas, lembre-se que na época de Boltzmann ele não tinha como comprovar a existência de átomos e isso não o impediu de desenvolver sua teoria cinética dos gases (e viva o ensemble canônico!).

Continuando o nosso projeto de unificar as nossas teorias da realidade, um bom lugar pra começar é analisar o limite de aplicabilidade das duas teorias. Este limite se resume a dois tipos de problemas que são o reflexo de um conceito matemático que aflinge todas as teorias desde o tempo de Zenão: as singularidades da RG e as divergências de TQC. O conceito associado todo mundo conhece, pelo menos, desde cálculo 1: o infinito matemático! Curiosamente, o problema do infinito está intrinsecamente associado ao que nós chamamos de limite de precisão de nossas medidas. Isto tem a ver com o simples fato de nossas teorias se basearem no chamado corpo dos números Reais. É possível dividir a reta real de infinitas maneiras e continuar dividindo-a infinitamente até o fim dos tempos. Pior, vai que Joãozinho decide contar os números reais, mesmo que demore um tempo infinito. Ele vai se deparar com o pequeno problema de que a reta real é incomensurável, ou seja, não existe bijeção entre ela e os números naturais! Pois é, não dá nem pra dizer que 1,65346347348765 é chamado de Zé porque eu precisaria escrever o número completo para que seja distinguível de qualquer outro. Essa truncagem que eu fiz pode significar, na realidade, infinitos números reais que começam desse jeito. É, a vida é dura... O que eu quero chamar a atenção de vocês é justamente para esse problema intríseco de todas as nossas teorias contínuas: os resultados não podem nem ser escritos. Bom, você poderia colocar uns 3 pontinhos ali depois da última casa decimal... Mas isso não lhe dá muita informação nova. A teoria quântica cuida desse problema em parte. Em vez de termo um infinito incomensurável de valores possíveis para as quantidades física, reduzimos para um infinito comensurável. Os valores, apesar de reais a priori, podem ser contados. Entretanto, isto não resolve o problema que eu comentei. As réguas continuam não tendo limite de divisão.

Existem várias maneiras, atualmente, de lidar com os infinitos na física. Geralmente, essas teorias são chamadas de Teorias de Gravidade Quântica e são fortemente representadas por duas grandes teorias que parecem ser as mais razoáveis no momento: Teoria de Cordas e Gravidade Quântica de Loops (LQG). Hoje em dia, pode-se dizer que todo mundo já ouviu falar de cordas, mas pouca gente ouviu falar de Loops. Vou comentar um pouco sobre como estas teorias buscam fundamentar a realidade e nos permitir dizer que Nada, absolutamente nada é estatístico (Estou me esforçando para bater o recorde de Tiago de linhas!).

A Teoria de Cordas é bem simples. Suponha que os objetos mais elementares da natureza não são partículas, mas coisas chamadas cordas de (1+1) dimensões (1 de espaço e 1 de tempo). Enfim, substitua pontos por curvas fechadas (cordas abertas é outra história). Escreva a lagrageana, faça teoria de perturbação e voilá, sumiram os infinitos! É meio difícil explicar por que os infinitos somem (nem eu mesmo sei direito ainda), mas o argumento qualitativo é razoavelmente simples. Em TQC, interações podem ser representadas por diagramas de Feynman como o exemplo cru abaixo:




Não importa exatamente que interação é essa, mas apenas que a interação é pontual, i.e., existe um delta de dirac associado ao vértice no diagrama acima. Ou seja, interações pontuais levam a infinitos naturalmente. Isso não acontece em teoria de cordas, o que fica explicitado no seguinte diagrama (não reparem a cor, tou sem saco de procurar um melhor):



Em vez da interação ocorrer em um único ponto, ela se estende ao longo da corda. Além do mais, esse diagrama em cordas representa, na verdade, uma família de interações. Isto vem do fato de que as "partículas", isto é, as propriedades que identificam uma partícula tais como massa e spin, são geradas por modos normais de vibração das cordas fechadas. No final, tudo não passa de uma bela extensão de nosso paradigma harmônico oscilatório... Cabe muito bem à física como um todo o nome da turma de formandos em física de 2006.2: Oscila, mas não cai. É como Bruno sempre diz nas aulas de Teoria Quântica de Campos, "nós não somos tão criativos como dizemos ser". Pronto, agora que nós vimos que as cordinhas resolvem o problema das divergências em TQC e, de brinde, podemos descrever a gravidade como uma excitação de spin 2 de uma corda fechada (o chamado gráviton), parece que temos uma teoria da Gravidade Quântica. Bom, como todo mundo já sabe, por enquanto só parece. Primeiro, nós temos que o paradigma de cordas é de deixar qualquer autor de ficção científica de cabelo em pé. Para toda a estrutura dar certo, tem alguns requerimentos razoáveis que nós sempre fizemos em física, tais como localidade, causalidade e invariância de Lorentz (este último vem de bônus da relatividade especial). Pegue, então, o tipo mais simples de corda (sem ser super!), a chamada corda bosônica, e imponha invariância de Lorentz. Daí sai a brilhante notícia de que, para a teoria ser consistente, ela deve ter 26 dimensões! Fascinante. Bom, essa é só a teoria mais simples. Vamos complicar mais. Suponha que exista uma simetria muito bonita, chamada supersimetria, que relaciona bósons e férmions. Com uma teoria supersimétrica, podemos reduzir os graus de liberdade relevantes de nossa grande teoria! Afinal, mais simetrias significa mais quantidades conservadas. Daí surge que podemos fazer uma teoria consistente, salvo alguns problemas ainda não resolvidos, com "apenas" 11 (ou 10 !) dimensões. Beleza, agora só nos resta esconder essas dimensões pra que ninguém as veja. Tem uma estrutura matemática chamada de variedade de Calabi-Yau que pode descrever nossas dimensões extras, no caso, 7 (ou 6). Pronto, agora só nos resta compactificar essas dimensões extras de forma que elas sejam pequenas o suficiente para que ninguém as veja. Voilá, (novamente) está pronta nossa teoria! Tudo isso só por que descartamos as pobrezinhas das partículas... Pois é, apesar de eu estar tirando onda, a coisa é mesmo mais ou menos assim. O pior é que, dado que as mentes mais brilhantes do mundo acreditam nessa teoria, é bem provável (a la Tiago) que ela esteja correta. Entretanto, como eu já tinha dito, existe uma outra teoria que bem menos gente conhece...

A teoria alternativa a cordas, pelo menos no sentido de ser uma teoria de gravidade quântica, é a Gravidade Quântica de Loops (Loop Quantum Gravity). Chamemo-la de Teoria dos Loops (TL), pra simplificar. Ao contrário da TC, a TL não busca ser uma teoria de unificação de todas as forças. Enquanto a TC acredita na mecânica quântica (MQ) (e, por extensão, na TQC) e acha que a Relatividade Geral (RG)l é apenas uma aproximação de uma TQC + gravidade a baixas energias, TL acredita que a RG tem coisas novas e importantes a dizer sobre a natureza que a MQ não diz. Estes conceitos são o de independência de fundo e invariância por difeomorfismo (background independence e diffeomorphism invariance). O primeiro conceito tem a ver com a estrutura matemática que nós escolhemos na nossa teoria que, no caso de TC, é uma variedade produto de Minkowski com Calabi-Yau (que deve resultar apenas em Minkowski pós-compactificação). Portanto, background independence diz que sua teoria deve independer do plano de fundo onde acontecem as interações. Isto é realmente estranho dado que toda a física padrão que conhecemos funciona num plano de fundo escolhido. Já o segundo conceito, invariância por difeomorfismo, é simplesmente uma maneira matemática mais sofisticada de dizer invariância das leis físicas por sistema de coordenadas ou covariância. Além de independer da estrutura matemática do espaço-tempo, a teoria fundamental deve independer de coordenadas. Fica claro que, dadas essas requisições, necessitamos de nova matemática para podermos "criar o espaço-tempo do nada". Bom, eu digo que esta nova matemática existe e é a base da TL. Na realidade, existem algumas maneiras diferentes de realizar este projeto, mas isso não vem ao caso. O que importa é que o grande resultado de TL é que, dadas as requisições que comentei, o espaço-tempo deixa de ser uma entidade contínua e passar a ter uma estrutura quantizada! O espaço-tempo contínuo usado em RG é apenas uma aproximação dessa estrutura descontínua que fundamenta todo background que desejemos criar. Esta estrutura matemática é chamada de rede de spins. Aos vértices dessa rede de spins nós associamos volumes e às arestas, áreas (ver figura abaixo).



E finalmente eu cheguei onde queria dizendo que "Nada, absolutamente nada é estatístico". Se a revolução proposta pela Teoria dos Loops estiver correta, o espaço-tempo é quantizado e, portanto, existe um tamanho característico que a priori podemos calibrar nossas réguas de medida. Assim, se pudermos alcançar escalas de energia altas o suficiente para sondar essa estrutura quantizada, os erros associados a flutuações não poderão existir pois as medidas serão truncadas na escala de Planck! É razoável que exista esse limite se realmente acreditamos que exista uma teoria fundamental.

Bom, sem querer me alongar demais, decidi truncar minha exposição aqui (se eu não fui mais longo que Tiago, pelo menos coloquei 3 figuras :P). Espero que vocês tenham entendido a minha intenção juntamente com a idéia de Tiago. Realmente, estamos limitados a tirar conclusões estatísticas (médias) em face da complexidade e grande número de graus de liberdade da realidade. Entretanto, o fato de os resultados se repetirem, mesmo que na média, leva-nos a crer que exista uma realidade subjacente, um certo determinismo subjacente que nos permite tirar conclusões que são, na média, precisas. Esta é a grande base do método científico. Ele é o método mais apurado que encontramos para sondar os padrões da realidade. Enfim, apesar das coisas serem realmente meio incertas (no sentido exposto acima), acreditamos que, num nível fundamental, seja lá o que isso for, as coisas devem ter um significado finito e preciso. Era isso o que eu queria dizer. As coisas são estatísticas no sentido que escondem o fundamental que há por trás.

Agora, quanto ao mundo estar caminhando, na média, para um lugar melhor, eu tenho algumas ressalvas. Tudo bem que hoje em dia, apesar das flutuações, é mais provável alguém consiga evoluir do que há anos atrás. Por outro lado, também é mais fácil soltar bombas em outros países, acreditar em coisas falsas e é mais provável nos contradizermos, pois há muito mais informação acessível do que antigamente e mais informação significa maior complexidade e menos controle. Portanto, não adianta de nada haver mais informação se não houver mais controle. Não basta apenas querer, tem que saber o que se quer e como se quer. É necessário responsabilidade e preocupação com a verdade e com a democracia. É realmente mais provável que alguém leia o meu texto e se identifique com ele. Mas talvez também seja igualmente provável que alguém venha a discordar dele...

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Tudo, absolutamente tudo é estatístico...

Então...fui convidado pra participar dessa "Festa da Física" já há algum tempo, mas infelizmente - a desculpa é sempre a mesma - o DF não permite-nos ter vida fora dele. Fora as dificuldades habituais de tempo supra-citadas, ainda tenho que lidar com a falta permanente de criatividade quando o assunto é colocar em palavras idéias - tenho o costume de fazer isso com números e letras gregas, não com palavras (soa familiar? Leia o Diário!). Enfim, como diria Nelson Rodrigues, "é difícil...".

Aproveitando a ocasião, aviso antecipadamente que dizem que falo (leia-se escrevo) demais, mas não acredite nisso - não ainda. Tire suas próprias conclusões, sem ser influenciado pelas alheias. Tentarei ser breve nesse post.

Também dizem que quando eu digo "serei breve" é sinal de que Fidel baixou em mim. Nego. Meus discursos são bem mais breves (e interessantes) que os do saudoso general. Além do mais, na minha humilde opinião, essa idéia disseminada que sou eloquente demais é uma idiotice descabida, desproposital, estapafúrdia, que não encontra respaldo histórico - e só um ser com Q.I. oscilando entre uma ameba em coma e uma samabaia de plástico poderia afirmar algo assim. E além do mais, ressalte-se, quem costuma espalhar esse tipo de boato é a oposição (e a ela dirijo meus elogios e comprimentos).

Pretendo dar minha contribuição por aqui postando notícias do meu interesse, e, por que não, trazendo idéias interessantes e questionamentos filosóficos à mesa, para que os queridos colegas que dividem esse espaço comigo possam sentir que faço deste bom uso. Afinal, são muitas as questões que aflingem o ser humano em seu mais profundo âmago. Por que lutamos pra sobreviver se vamos morrer de um jeito ou de outro? De onde venho? Para onde vou? Existe vida após a física? Porque "separado" é tudo junto e "tudo junto" é separado? Como é que a Mulher Maravilha encontrava o seu jato invisível se ele era invisível? Por que o pato Donald sempre anda pelado da cintura pra baixo e todo mundo acha normal? E é claro, talvez a mais importante: ONDE ESTÁ WALLY? (o GOE já foi acionado?)

Mas adentrando (finalmente) no assunto do título da postagem, encerradas as apresentações (meu nome é Souza, Tiago Souza), feitas "as honras da casa" (à lá Giovanni/Eliasibe), iniciemos a nossa filosofada do dia...(Eliasibe, esse negócio tem limite de palavras?!)

Não sei se o título do post polemiza (Tudo, absolutamente tudo é estatístico...), mas sinceramente nunca havia parado para refletir sobre a profundidade e o significado desta. Nunca assisti a um debate ou discussão acalorada nos meios em que frequento (acadêmicos, em suma) sobre a verdade (ou mentira) por trás desta idéia. Ela parece se apresentar para mim como uma verdade tácita, óbvia, primordial, da qual tudo é uma final consequência - mas aparentemente ninguém se lembrou de nos lembrar disso. Afirmo essa "verdade" com caratér pessoal, portanto, a partir das experiências que tenho vivido ultimamente - e intensamente. É uma dessas filosofadas que se dá, ao se perceber como tanta coisa diferente, tantas realidades e situações diferentes, se conectam com essa pequena premissa (como quando se postula que a energia se conserva em todo sistema isolado, e a partir daí se extraem resultados que se aplicam a mecânica clássica, ao eletromagnetismo, a mecânica quântica; enfim, a qualquer fenômeno que a física pretenda descrever).

Mas se é realmente tão profunda como para mim se apresenta, porque então não é fomentada por discussões e lembretes - como frequentemente o é no caso da conservação da energia?! Sinceramente, não tenho uma resposta definitiva para esta pergunta. A minha opinião é a que expus no parágrafo anterior: deve ser uma dessas coisas que todos os "gigantes" a que Newton se refere no Principia sabem, e a percebem como uma obviedade tão grande, daquelas que todos nós, meros mortais, devemos tanto saber, que seria uma levianidade perder tempo nos lembrando disso.

Em geral, quando nos é ensinado Probabilidades no ensino médio por um professor de matemática, ele classifica os eventos em dois grandes grupos: os eventos determinísticos e os eventos aleatórios. Ao afirmar ser verdade que tudo é estatístico, digo então que os primeiros estão contidos nos segundos - isto é, não existem eventos determinísticos.

É claro que tenho que aqui parafrasear meu professor de mecânica, Bruno Cunha, e dizer que também tudo depende do limite de aplicabilidade. Ninguém seria louco de usar a relatividade geral para calcular a órbita de um satélite geostacionário (ou seria? nunca duvide do que Bruno pode fazer numa manhã de segunda-feira cinzenta...). Tudo depende do erro que você aceita ter ao final de suas contas, e você pode tornar este tão pequeno quanto você queira, desde que uso o método adequado para resolver seu problema - ou inclua termos de ordem maior na sua solução aproximada, ou mesmo na sua equação aproximada. Mas o que se faz em última instância experimentalmente para comprovar uma dada lei física (principalmente as mais sutis) é tomar várias e várias medidas iguais de uma grandeza, e a partir daí calcular o valor médio que você obteve, bem como a variância. Algumas de suas medidas podem (e irão!) flutuar consideravelmente, caso você toque na mesa em que estava fazendo a experiência e sua medida seja bastante sensível, por exemplo, mas na média (e é exatamente isso que quero ressaltar aqui) seu resultado se aproximará de algo esperado, dentro de uma margem de erro (tá vendo que valeu de alguma coisa ter pago uma disciplina experimental - a saber, Laboratório de Física Moderna?). E nessa margem de erro, dentro desse domínio, suas medidas são random walkers que, você espera, se concentrem próximo ao valor médio. Mas veja as etapas pelas quais você passou, com um pouco de cuidado! Você, e nem ninguém, esperaria obter um resultado 100% exato ao medir a grandeza: você sabe, compreende, aceita, crê, que você e seus instrumentos tem limites, e que a sua teoria tem um limite de aplicabilidade, e que você não irá usar todas as casas decimais dos números irracionais que aparecerem no meio do caminho, porque isso é ingenuidade demais.

Então, mesmo para a trajetória de uma partícula num potencial muito bem conhecido - uma mola pouco deformada, por exemplo - você só conseguirá ler a posição com uma precisão finita - e isso é inclusive um tópico de MQ, onde não só os instrumentos, mas a própria natureza lhe limita o conhecimento de medidas com precisão infinita. Logo, no fundo, ao verificar se uma determinada suposição física é válida, mesmo sabendo todo o arcabouço teórico do qual aquele experimento faz parte, e deduzir equações que são teoricamente precisas per se, você no fundo a faz como um evento aleatório "controlado "- na verdade quem tá controlando sua medida, desde que você a faça corretamente, é a natureza, com uma lei natural por trás. É, de um certo prisma, um evento determinístico aleatório (entendeu?! LINDO, BRASIL!!! Me emocionei agora..).

Vamos "subjetivizar" a nossa discussão, e expandir um pouco o nosso raio de ação para ver onde conseguimos chegar com essa premissa: sua vida é uma mera estatística. Você - em seu domínio - é um random walker, embora de um tipo muito especial, claro - com memória, preferências, distribuições de probabilidade que variam com o tempo - mas é apenas uma partícula perante o mar de seres humanos que vagueiam errantemente na terra.
Você já parou para pensar com quantas pessoas você divide este planeta?! Não tome como espaço amostral as pessoas que você se encontra, se encontrou, conheceu, beijou, deitou, brigou com, passou pela rua em algum momento de sua vida... É muito, mas muito, mas muito maior do que esse número - da ordem de 10^9!! Por exemplo, imagine se cada pessoa da terra resolvesse sacar todo o seu dinheiro depositado em bancos ao mesmo tempo? Imagina o caos? Os bancos se beneficiam dessa premissa do post, pois sabem que isso é estatisticamente improvável! Veja, os bancos recebem seu dinheiro quando você deposita, mas devolvem esse dinheiro pra outro cliente que saca. Como o banco consegue lucrar? Na média, ele fica com algum dinheiro (algum muito, na verdade) e sai aplicando, se valendo da estatística do mercado financeiro para, inteligentemente, ganhar dinheiro! (saudações, Domingos! =D ) Os meios de comunicação em massa - e ai incluo as "celebridades" - também tomam vantagem disso.
Aliás, as celebridades sabem disso mais do que ninguém! Não se enganem pensando que portas como Paris Hilton, Britney Spears (sim, eu leio fofocas) não sabem brincar de estatística. Para elas, é melhor estar no noticiário sendo lida por alguns milhões de pessoas (mesmo sendo taxada de louca e retardada) do que ser esquecida e ter sua imagem desvalorizada. Somos nós que fazemos elas valerem alguma coisa! Afinal, algumas milhares de pessoas compram jornais para lerem a respeito, não? Isso gera dinheiro. Já os cantores vendem seus cd's aos milhares tirando um lucro relativamente pequeno por cd; mas "na média", eles ganham muito dinheiro. Realizar um show com um destes cantores é muito, muito caro. Mas na média, dá lucro - desde que você cobre o preço do ingresso baseando-se na lei da oferta e da procura, bem como procure artistas em que a relação custo-benefício seja maior do que zero (mais benefícios do que custos).

Mais ainda, aproveitando a deixa do mercado financeiro, vamos entrar noutro prisma: ninguém fica rico do nada, de repente. Ao contrário, as pessoas ricas, verdadeiramente ricas, financeiramente ricas, monstruosamente ricas, que ficam cada vez mais ricas a medida que o tempo t e o raio do universo r tende ao infinito, são aquelas que possuem duas importantes características: paciência e conhecimento da máxima do título desse post. Elas constroem suas fortunas vagarosamente, pacientemente, jogando sempre que a probabilidade lhe é favorável, e escapando das derrotas certas, lutando sempre pelo máximo lucro e pelo prejuízo mínimo - probabilisticamente falando. Em geral, também, estão na hora certa no lugar certo, e o mais importante de tudo, tomam a decisão certa, bem como sabem avaliar corretamente o futuro, baseado exclusivamente no presente/passado. Foi o caso de Bill Gates, Steve Jobs, Stephan Wozniak e todos os bilionários que resultaram do Vale do Silício - seres responsáveis pela criação (ou difusão?!) da máquina na qual você está me lendo. Percebe a força e poder da idéia que estamos discutindo? Percebe o quão ela se espalha desenfreadamente como raiz que se alastra e quebra o chão, adentrando em tópicos tão diversos (e surpreendentes) como de que forma se organizou a cultura geral do século 20?

Você pode até contra-argumentar: e a loteria?! Caso eu ganhasse hoje estaria milionário, quando ontem era apenas um pobretão, estudando física por mero prazer e gosto (ou desgosto, em alguns vários muitos casos), sem perspectiva nenhuma de alcançar este estado em um tempo t finito. Foi uma transição de fase abrupta, graficamente classificada de catastrófica, descontinua!

Até para esse cenário a estatística tem uma resposta: você foi uma flutuação, bobão. Uma mera, e estatisticamente insignificante, flutuação. Você já ouviu falar na quantidade de "novos milionários" desse tipo que conseguiram manter suas respectivas riquezas adquiridas após algum curto intervalo de tempo?! São raros. Em geral, por não saberem dessa máxima, nem terem adquirido a experiência necessária para lidar com ela quando o assunto é dinheiro, o montante adquirido decai com uma lei de escala bem definida (me arriscaria até a dizer que esse decaimento é exponencial, com alguma probabilidade não-nula de errar). Veja os ex-big brothers, os ex-ganhadores de prêmios, aqueles que tiveram o "sucesso" precedendo o "trabalho" (salve, Einstein). É necessário tempo, paciência e esforço, bem como alguns neurônios pensantes para se adquirir o aprendizado necessário para ficar rico. Mesmo que você herde uma herança considerável, venha de familia com muitos patrimônios, caso não lhe ensinem a se aproveitar das probabilidades - com muito trabalho, é claro - você está fadado a perder tudo. Esse é o destino de muito filhinho de papai que vive na balada e acha que a torneira do dinheiro não vai fechar nunca.

Relacionamentos duradouros em geral não acabam repentinamente. É necessário um desgaste contínuo e um tempo de amostragem suficientemente longo para que um fim definitivo chegue. Isso é mais estatisticamente provavél - bem como mais sensato. Conhecimento também não se adquire instantaneamente. Veja quanto tempo se leva para aprender uma ciência tão vasta e bela como a física - para ao final do processo se perceber que você ainda saiu com muitas perguntas, talvez até mais do que quando entrou. Isso é muito mais estatisticamente provável, acredite. Experiência então, muito menos. Para esta é preciso maturidade, e aí o tempo se faz fundamental. São necessários anos e anos de tentativas e erros em várias direções, tentando jogar na hora do "lucro" e fugir do "prejuízo", para se descobrir, descobrir o seu "norte". E era aqui que eu queria chegar com essa discussão toda.

Olhe para trás, em direção ao seu passado agora. No meu, percebo que, a longo prazo, estou indo para onde queria ir a muito, muito tempo. Aliás, hoje sinto que evolui bastante em muitos sentidos: afetivamente, intelectualmente, fisicamente, financeiramente. Isso é sinal que estou escolhendo os caminhos certos, os com maior probabilidade de sucesso, e tenho conseguido distinguir razoavelmente bem os com maior probabilidade de fracasso. Embora meu v0 tenha sido relativamente baixo (na minha opinião), minha aceleração têm sido constante, com um valor razoável, e após o tempo necessário para suplantar a baixa velocidade inicial, tenho obtido os resultados que gostaria hoje mais rápido do que a alguns anos atrás. Sou mais feliz hoje certamente do que era. Agora eu viro o espelho: E você?!

Olhando para trás, o que você vê?! Quem você era, e o que queria?! É algo parecido com o que você tem hoje?! O que você quer hoje?! Analise seu v0 e a sua aceleração. Algum parâmetro precisa ser ajustado?! Em suma, você tem feito as escolhas certas para, probabilisticamente falando, alcançar um estado de energia mais baixa (para onde tudo quer ir!) em um tempo curto, finito?!

(Momento nostalgia...)

Do fundo do meu coração, eu espero que sim. Até porque se isso for verdade, como a taxa de amostragem desse blog é relativamente alta, pois trata-se da internet (veja quantas pessoas estão ficando famosas com o youtube, por exemplo!), eu poderia inferir que a probabilidade das pessoas chegarem onde querem, no meu tempo (década de 80 pra cá), e no espaço ao meu redor (região socialmente atrasada de um país subdesenvolvido, onde existem todos os riscos em curto, médio e longo prazo de assaltos, baixo salário, greve, competição, reitoria ocupada, injustiças, falta de educação, calor, umidade, mosquitos, etc...) é consideravelmente maior. Consequentemente, estatísticamente, o nosso planeta está caminhando para se tornar um lugar melhor.

Espero. Assim espero.

E eu disse que iria ser breve.

sábado, 3 de novembro de 2007

E a Morte

Certamente todo mundo já teve alguma experiência de morte, ou na família, ou com amigos, ou em sonhos. A primeira dor que a morte trás para a família e amigos é a dor da perda, da separação eterna. Esse sentimento de perda, que causa pesar, choro e etc, não necessariamente acontece com a morte de fato. As vezes acontece apenas com a sensação de perda. Já aconteceu comigo.

A morte também trás reflexões. Acredito que todo mundo que perdeu algum amigo ou parente refletiu o "além morte". Com o corpo nós já sabemos, ele vai ser alimento de vermes e fertilizante para os capins e árvores do cemitério. Agora já sabes porque os capins do Parque das Flores são tão verdes. Mas, o que acontece com a consciência, que se diz ser a evidência do espírito, depois da morte? Ela acaba? Ou permanece viva? E se vive para onde vai, se vai? Tais perguntas a ciência não responde. Assumindo a existência do espírito, o corpo é apenas um arcabouço para o espírito interagir com o mundo material.

A perda, a saudade e essa reflexão do além morte são as causas do dia de finados, de culto aos mortos e de todo comércio que gira "em torno" dos mortos para a sobrevivência dos vivos.

Na ciência não tem uma teoria que especula o estado de morte e o pós morte, tal como a teoria do "Big Bang" e a teoria da "evolução", que especulam o surgimento da matéria inorgânica e da matéria orgânica respectivamente. A evolução vai além e especula ainda o surgimento da vida. Desde que eu soube da teoria da evolução me pergunto: como a matéria inanimada pode gerar matéria animada (isto é, com vida)? Isto é a geração espontânea ou abiogênese. Ainda existe a biopoese, que é a origem química da vida. Como diria Tiago Ceará, colega do DF, dos caras que "inventaram" essas teorias: "esses são machos heim!"

O mais intrigante é a origem da consciência. Depois das transformações matéria inorgânica para orgânica e da suposta matéria inanimada para animada, onde é que entra a consciência (ou o espírito)? Se a origem da consciência é devido a alguma transformação química certamente teremos uma "matrix", mais cedo mais tarde. Máquinas "conscientes" voltadas contra seu "criador", o homem "consciente".

Essas teorias são cheias de "buracos", a do big bang por exemplo não explica de onde veio a matéria da explosão. Aaah são tantas tantas dúvidas e indagações. A hora não permite!

A verdade é que a ciência não sabe de onde viemos e nem para onde vamos.
Por isso digo: viva a vida, seja completo!


Ai entra a religião. Ela fala do antes e do depois da vida. É por esse motivo que o homem rede-se a ela, porque ela sacia sua fome e sua vontade de comer.

Esse assunto dá pano para as mangas, mas eu vou deixá-las curtas mesmo!

Se ainda estivermos vivos, até a próxima meu Brasil.