sábado, 23 de junho de 2007

São João na Contra-Mão

Olha pro céu meu amor, veja como ele está... cinzento. Talvez deva ser esse o novo sucesso das paradas do São João em vista à grande atenção dada atualmente ao aquecimento global e à poluição do nosso planeta. Entretanto, parece que a ladainha tão repetida e disseminada pelos 4 cantos do mundo virtual e do real, a mesma que cada ramo midiático busca reproduzir e aproveitar para vender mais produtos ecologicamente "corretos", não está pegando aqui no Brasil nesta época de São João. As pessoas continuam acedendo suas fogueiras, cortando suas árvores, soltando seus foguetes e seus balões e esquecem as árvores derrubadas e a enxurrada de gás carbônico liberada em tal festança. Pouca gente sabe, mas a tradição de acender fogueiras na festa de São João Batista, data que comemora o nascimento deste profeta, vem de uma promessa feita entre Maria (mãe de Jesus) e Isabel (mãe de João Batista). Estando Isabel grávida na época, deu-se que esta combinou com Maria de acender uma fogueira se seu filho nascesse para que assim pudesse ter o auxílio pós-parto da amiga, visto que elas moravam um pouco distante uma da outra. Portanto, este artefato cultural tão apreciado no Nordeste nestes tempos juninos poderia ser muito bem substituido hoje em dia por um telefone, um celular ou qualquer outro meio de comunicação que permitisse Isabel dar as boas novas a Maria. Claro que sendo assim, a festa não seria tão peculiar e idiossincrática aos brasileiros. De fato, o povo gosta é de ver as brasas subindo aos céus e joãozinho se queimando ao pular a fogueira. Muito mais apropriado se joãozinho for um corrupto deputado...

Entretanto, esse simples fato não seria motivo para deixarmos de acender fogueiras. Existem 3 argumentos que ao me ver são suficientes por si sós para nos realmente pensarmos em abrandar nosso fogo: desmatamento das matas, liberação de CO2 na atmosfera e os problemas respiratórios e de queimadura provocados pelas fogueiras. Para endossar estes argumentos, façamos uma estimativa para um limite inferior de quantas àrvores são derrubadas no São João considerando que para cada fogueira derrube-se uma árvore. A população estimada em Pernambuco é de cerca de 8,4 milhões de habitantes. Se apenas 10% dos indivíduos no estado resolveram acender uma fogueira, temos que 840 mil àrvores foram derrubadas para tal tarefa. Este é o preço que talvez paguemos por cada família querer ter sua própria fogueira em vez de serem feitas fogueiras comunitárias. Vale ressaltar que somente na capital Recife temos uma população de 1,5 milhões de habitantes e que se levarmos em conta a estimativa visual nas ruas, talvez esta estimativa de 10% seja bem baixa... Dada esta estimativa, provavelmente a festa de São João é a delta de Dirac do desmatamento nacional (para aqueles que não conhecem a teoria de distribuições, entendam como pico máximo do desmatamento nacional). Vale lembrar que o desmatamento no Nordeste freqüentemente é feito em regiões semi-áridas e áridas, áreas que são mais frágeis ao desmatamento sendo propensas ao surgimento de zonas de desertificação.

Por outro lado, há de se concordar que o coitado do São João não é o senhor de todos os males. Antes disso, o profeta São João tem uma representatividade muito maior nos textos eclesiásticos. São João é visto como um duplo profeta, pois além de profetizar em vida, seu nascimento foi profético. Isabel, mãe de João, era considerada infértil na época e Zacarias, marido de Isabel, era mudo por causa de sua pouca fé. O nascimento de João anunciou a chegada de tempos messiânicos onde a esterilidade tornar-se-ia fecundidade e o mutismo, exuberância profética (http://www.ecclesia.com.br/sinaxe/joao_batista.htm) . Dados os danos que a festa de São João tem dado ao homem, talvez a profecia torne-se invertida hoje em dia. Se continuarmos abusando indiscriminadamente e sem parcimônia os nossos tão sagrados recursos naturais, a fecundidade poderá tornar-se esterilidade e humanidade diante do caos talvez fique muda, sem ter mais opções para reverter os malefícios propagados. Cada passo deve ser repensado neste dias tão cheios de absurdos e com tanto seres humanos no mundo. A superpopulação, as doenças e o desgaste advindos da profícua fecundidade dos seres humanos e a má administração dos recursos naturais são reais e presentes todos os dias das nossas imperfeitas e limitadas vidas. Cada golfada de ar faz surgir um novo sofrimento. E a todo instante surge um novo impasse. E para aqueles que acham que devem aproveitar a vida ao máximo, que tudo esse sofrimento e desgaste só serão insuportáveis daqui a 1000 anos, preparem-se para as conseqüências. Os problemas já estão aí e são o mote do dia. A qualidade irá cair drasticamente dentro de 50 anos se não fizermos alguma coisa para mudar o paradigma atual na utilização do nosso planeta. Portanto, sejamos mais racionais e respeitemos o verdadeiro recado que a festa de São João deveria nos dar: o de novos tempos de fecundidade e de profecias otimistas (suponho que a exuberância profética seja de profecias otimistas). Usemos a força de nossa cultura para propagar novas idéias e pensamentos que farão a humanidade crescer como tal e perpetuar-se como espécie. Não queimemos o verdadeiro espírito da natalidade de São João. E você, São João, nos ajude e pare de andar na contra-mão!

Links úteis:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pernambuco
http://acertodecontas.blog.br/atualidades/alunos-da-ufpe-fazem-protesto-contra-fogueiras/

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Hubble encontra Anel de Matéria Escura

O universo é cheio de mistérios. Um dos mais impressionantes tem a ver com a composição massiva-energética do universo observável. Como é de conhecimento geral, os objetos e os seres vivos que conhecemos são compostos de átomos. Também faz parte do saber usual que estes elementos não são tão indivisíveis como clama o próprio nome: átomos são feitos de prótons, nêutrons e elétrons. Por outro lado, não é tão conhecido que, no que consta os prótons e os nêutrons, estas partículas não são tão elementares assim, sendo constituídas de 3 quarks cada uma. Este sim, pelo menos por enquanto, consiste no paradigma fundamental microscópico da natureza: a matéria usual, tal como a conhecemos, é feita de quarks e elétrons. Isto é o que chamamos de matéria bariônica. Os quarks são o que chamamos de bárions e o elétron faz parte do grupo dos léptons, entre os quais temos igualmente o neutrino. Existem outras partículas elementares, mas deixemos isso para outra ocasião (ou para o Google responder). Todas essas partículas e suas interações são compreendidas num arcabouço teórico chamado de Modelo Padrão.

Tendo explicado o que entendemos por matéria bariônica, voltemos ao objetivo deste post que é falar sobre um outro tipo de matéria que está desafiando cientistas de todo mundo a explicá-la: a matéria escura (ME). A ME é o que chamamos de matéria não-bariônica e ela não pode ser compreendida em termos do Modelo Padrão. A foto que aparece acima foi tirada pelo telescópio Hubble e mostra o aglomerado de galáxias Cl 0024+17 que se encontra a cerca de 5 bilhões de anos luz da Terra e tem um diâmetro de 2,6 milhões de anos luz. Podemos perceber na imagem um anel escuro diante do fundo predominantemente azul do aglomerado (esta foto mostra apenas o espectro azul da imagem original). Este anel é uma das evidências mais fortes da existência de ME. O termo 'escura' vem do fato que tal tipo de matéria não brilha, isto é, não emite radiação eletromagnética detectável. Portanto, nós não podemos "ver" a ME, apenas coletar evidências indiretas de sua existência. Historicamente, a proposta da existência de ME vem do aparente desequilíbrio gravitacional calculado em certos aglomerados de galáxias. A distribuição de densidade destes algomerados seria insuficiente para torná-los estáveis gravitacionalmente, como observado. Outra maneira de detectar a presença da ME é atráves do efeito de lente gravitacional, fenômeno previsto pela relatividade geral no qual a luz das galáxias que estejam por trás da linha de visão do possível foco de ME é curvada pela densidade de matéria escondida aos nossos olhos. Em vista do modelo padrão, supõe-se que a ME seja composta de algum tipo desconhecido de partícula elementar. Atualmente existem alguns modelos de campos quânticos que prescindem a existência de novos tipos de partículas que podem explicar o que seria a ME.

A partir de estimativas cosmológicas e astronômicas podemos concluir que a densidade de matéria bariônica no universo é de apenas 4% do total da energia do universo! Além disso, existe outro mistério da cosmologia atual que é a chamada energia escura (que a priori não tem nada a ver com ME). A energia escura é uma suposição teórica necessária para explicar o fato que o universo está em expansão. Por fim, estas estimativas sugerem que 22% do universo seja composto de ME e que a esmagadora maioria (74%) seja composta de energia escura, algo ainda mais misterioso do que a ME. Entretanto, em termos de quantidade de informação física armazenada e conseqüente importância para a dinâmica geral do universo, a energia escura contém muito menos informação física relevante do que os 30% de matéria que o compõe. Mas, enfim, isto já é outra história...

Fonte: Nasa (http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2007/17/)

domingo, 10 de junho de 2007

Cientistas conseguiram filmar um elétron em movimento

Os pesquisadores da Universidade Brown, Estados Unidos, Humphrey Maris e Wei Guo, conseguiram fazer o que parecia impossível: filmar um elétron e em movimento. Bem que não foi literalmente o elétron, com vocês perceberão adiante.

Vejam o que eles disseram:
"Nós ficamos impressionados quando vimos um elétron se movendo ao longo da tela," conta Maris. "Mas, depois que tivemos a idéia, realizá-la foi surpreendentemente fácil."

Bom, vamos ao que interessa, a explicação e o método:


Um elétron livre repele os átomos ao seu redor, criando um pequeno espaço - uma bolha - ao redor de si mesmo. Nos líquidos convencionais, a bolha permanece minúscula porque a tensão superficial age em oposição à força repulsiva do elétron.

Já o hélio superfluido tem uma tensão superficial muito pequena, permitindo que a bolha fique grande. As duas forças opostas se equilibram quando a bolha alcança um diâmetro de cerca de 40 angstrons - 1 angstrom equivale a 0,1 nanômetro, ou 10-10 metros. Essa é mais ou menos a dimensão de um átomo e milhares de vezes menor do que o comprimento de onda da luz visível, o que torna impossível uma filmagem direta.

Os cientistas então utilizam um transdutor planar - um alto-falante que emite ondas sonoras planas, não focalizadas - para golpear a bolha inteira com ondas sonoras. Quando cada onda atinge o bolha do elétron, ela alternadamente aumenta e diminui a pressão ao seu redor.
Quando a pressão é negativa, a bolha se expande até atingir cerca de 8 micrômetros - quase do tamanho de um grão de areia. Ela retorna ao seu tamanho original assim que é atingida pela próxima onda sonora.

Utilizando uma luz estroboscópica, sincronizada com o pulso de ondas sonoras, foi possível iluminar as bolhas em seu ponto máximo sem gerar aquecimento na câmara de hélio super-frio. Aí foi só fotografar as bolhas. Tendo coletado mais de 2.000 fotografias, os cientistas conseguiram fazer um verdadeiro filme dos elétrons se movimentando ao longo do hélio líquido.

Fonte: Inovação Tecnológica
Veja a reportagem no site da Brown University