domingo, 18 de novembro de 2007

Seguindo a Canção

Na última linha do meu post anterior eu disse: "Mas talvez também seja igualmente provável que alguém venha a discordar dele (do post)...". O texto abaixo é uma comprovação das minhas expectativas :) Ótimo texto, por sinal. Novamente, um Tiago vem e toma a frente. E, novamente, venho eu a seguir a canção... (Ad infinitum?)

Pois bem, estou aqui para esclarecer o que eu quis dizer com "controle" no meu texto. Basicamente, eu disse que mais informação significa menos controle do indivíduo sobre essa gama de informações e não sobre como a informação disponível pode ser usada para "controlar" os desejos das pessoas. Pois é, essa interpretação apresentada no texto de Tiago veio por dois motivos, creio eu: pelo caos e pela minha falta de controle. Falta de controle, pois eu não explicitei corretamente o que eu queria dizer (coisa provável dada a quantidade de pensamentos na minha cabeça na hora e, também, na quantidade de sono) e, dada essa falta de controle, o "caos" da cabeça de Tiago, ou seja, sua criatividade, o fez escrever este belo texto abaixo. Além disso, com controle eu quis dizer gestão da informação, isto é, seleção do que se lê, do que se ouve e do que se vê. Enfim, coisa que todo ser humano faz normalmente. Mais controle significa refinar essa gestão para descartar conclusões logicamente inconsistentes e até mesmo as consistentes sem aparente referente real (leia-se "besteiras" e vide texto de Domingos abaixo). Mais controle significa saber classificar melhor a informação para que possamos avaliá-las nos seus devidos contextos ou, até mesmo, extendê-las para que funcionem em outros contextos. Por fim, mais controle significa uma postura crítica diante das informações recebidas e, a meu ver, este é um dos principais objetivos do que chamamos de educação. Portanto, no sentido acima descrito, educação é controle.

Em suma, o que eu quis dizer com a minha ressalva sobre a visão otimista do mundo tem conseqüências similares à conclusão do post logo abaixo. Não adianta haver mais "estados acessíveis" se não há uma melhor gestão da informação, i. e., se não há educação. Realmente, hoje em dia há menos controle social, no sentido que Tiago falou, e, assim, o "caos" permite que um ou outro gato pingado possam melhorar sua condição econômica e social. Entretanto, essas flutuações só fazem sentido quando há controle individual no sentido exposto acima. Quando, por exemplo, uma pessoa pobre, por influência da escola e de programas sociais, tem contato com pessoas que lhe fazem ter mais controle sobre sua vida e sobre seus estudos, que lhe mostram que se ela controlar seus impulsos para as drogas e para o crime ela terá uma vida melhor, que ela deve usar camisinha, etc. Isto é simplesmente a base daquilo que chamamos vida. Vida é uma inesperada ordem (controle) acima do caos (desordem). A vida é a demonstração que mesmo sistemas bastante complexos, aparentemente caóticos (desordenados), têm uma ordem implícita. Esta ordem exige gasto de energia e, portanto, exige controle. Agora, até que ponto somos conscientes e senhores desse controle é uma questão muito relevante para as pessoas que pesquisam a origem e os caminhos da vida. Tais fatos não contradizem a 2ª lei da termodinâmica, pois o que importa é que a entropia não aumente em sistemas isolados. No nosso cérebro e no nosso corpo ela pode diminuir, pelo menos localmente. O problema é que à medida que se organiza num lugar, em outro tende a se desorganizar (dissipação de energia).

Dadas essas considerações, uma visão otimista do mundo é razoável se for uma tendência natural do nosso cérebro (leia-se seres humanos) tender a preservar a espécie. Vale ressaltar que quando nós falamos sobre o mundo caminhar para um lugar melhor significa um lugar melhor para todos os seres humanos. Só que isso não é tão claro para a cabeça de alguns seres humanos que detêm o controle político, mas não necessariamente o devido controle mental (leia-se George W. Bush). Portanto, se a tendência natural da maioria dos seres humanos for lutar contra as injustiças, lutar contra a desinformação e em favor de uma gestão crítica da informação, estamos salvos e a tendência à desordem do mundo será benéfica no sentido que as pessoas naturalmente farão as melhores escolhas. Mas, e se isso não for verdade? Vamos esperar sentados? Faz parte dessa dúvida sabermos e discutirmos qual o melhor caminho que o mundo deve tomar. E isso exige controle e exige crítica aos outros e a nós mesmos. Essa é a base da democracia, aceitarmos as críticas dos outros e analisá-las para que possamos fazer nossa auto-crítica. Nesse sentido, democracia também é controle. E é justamente isso que estamos fazendo aqui agora neste blog: exercendo nosso direito de concordar, discordar e, principalmente, de somar. Novamente, essa é a base da democracia e da soma caótica de nossos seres: os otimistas e os pessimistas (ou seja, todo mundo). No final, espero que essa soma convirja para a continuidade pacífica da espécie.

Concluo este meu texto com uma idéia que vi pela primeira vez no colóquio que homenageou os 60 anos do Prof. Maurício Coutinho, grande cientista e um dos principais responsáveis pela existência do nosso atual departamento de Física. Apesar dos pesares, ele é um sujeito a quem devemos prestar homenagens. Maurício citou que sua maneira de encarar a vida é muito parecida com a expressada por Norberto Bobbio, filósofo político italiano, ativista do social-liberalismo, que dizia mais ou menos os seguinte: "o “homem de Razão” tem o dever de ser pessimista (o pessimismo temeroso da inteligência) e o “homem de Ação” tem a obrigação de ser otimista (o otimismo esperançoso da vontade)" (adaptado de Gramsci e o Brasil). Portanto, eu não creio que o mundo vá se tornar um lugar melhor por mera estatística. Eu tenho uma certa esperança que o mundo se torne um lugar melhor, mas prefiro acreditar que o mundo só vai tomar esse caminho se agirmos de forma compatível com essa esperança. Portanto, prefiro ser intrinsecamente crítico em vez ficar especulando se a coisa naturalmente andará para onde eu gostaria que fosse. Muitas vezes as pessoas confundem sonhos com realizações. Na prática, apesar dos textos, acredito que vocês, meus amigos, principalmente o pessoal do D. A. que está trabalhando para melhorar a realidade do nosso curso, são críticos e agem com otimismo. Não importa tanto em como você acredita na idéia se você a põe em prática.

Pra finalizar, deixo uma frase do filósofo grego Aristóteles e, com ela, fecho um ciclo voltando ao que Domingos disse no seu último post e à idéia inicial de Tiago Aécio quando dizia que na média tomamos escolhas certas. Na média, faremos o mundo um lugar melhor desde que ajamos em ressonância com o seguinte pensamento:

"Excelência é uma arte conquistada pelo treino e pelo hábito. Nós não agimos certo porque temos virtuosidade ou excelência, mas preferencialmente as temos porque agimos certo. Nós somos o que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um ato isolado, mas, sim, um hábito.”

Façamos, então, este tipo de discussão crítica um hábito!

Um comentário:

Tiago Souza Lima disse...

Excelente texto...vou escrever uma resposta pra os três últimos textos muito em breve..

Por sinal, eu se fosse vc, Fábio, colocaria a idade certa de Maurício Coutinho no post..Ele é SEXagenário, não SEPTAgenário... =DDD Ele pode não se agradar com você adicionando 10 anos de vida deliberadamente a ele, e nunca se sabe como ele irá se vingar..dizem que quando ele o faz, o oponente sempre se surpreende à lá Yoda em Star Wars!!! =P

Abração!