quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Nem 8 nem 88...

Caro Domingos, eu até que não arranjei tanta confusão por escrever; por sentir falta, vou cair no erro de discutir religião...

Estava aqui a ler e reler postagens e comentários e lembrei que havia prometido responder à postagem "E a Morte" que Eliasibe escreveu pelo dia de finados (para ver, a promessa está listada entre os comentários). Minha última postagem escrevi depois de ler algo que eu não concordava tanto e queria colaborar na discussão. Agora venho em missão idêntica.
Aconteceu que um de nossos colegas de departamento comentou a postagem de Eliasibe com uma ênfase tão grande que não deixei de tentar ver as coisas dos dois lados da moeda. Mas a postagem de Eliasibe nem teve tanto cunho religioso quanto aparentava ao leitor do comentário. Pregação? aff e olhe que eu quase odeio isto! Mas de pregação houve nada(...)! Eliasibe disse apenas que a religião tem alguma importância.

A ciência tem como objetivo estudar a natureza em todos os limites termodinâmicos (rsrs, é que acabo de sair de uma prova de mecânica estatística). Não podemos taxar eventos sobrenaturais como sobrenaturais, a meu ver, se não tivermos pleno conhecimento prévio dos comportamentos que a natureza tem sobre estas circunstâncias. Quem não teria antes dito que a supercondutividade não seria um fenômeno sobrenatural? Aliás, por muito tempo filósofos atribuíam alma à magnetita e aos objetos eletrizados, estou errado?
Eliasibe foi equivocado, eu concordo, em dizer que a ciência não ajuda em assuntos referentes à morte e à consciência, a existência do espírito, etc... A ciência não objetiva estudar estes eventos. Aliás, muitos cientistas terminaram suas vidas pesquisando estes temas (lembro de ter lido a tempos atrás que Sir Isaac Newton escreveu livros de cunho religioso e no final da vida se reservou apenas a religião - Filmes relatam sua participação em organizações religiosas por acaso?) sem, no entanto, misturar com o estudo objetivo da natureza e, quando misturavam, esta colaboração era espontaneamente rejeitada.
A religião, em relação à ciência, tem um papel relativamente diferente: confortar a alma da criatura de alguma maneira, mesmo que seja com uma filosofia barata como em muitos casos. A ciência tem uma responsabilidade diferente: de ser objetiva, reproduzível e representar a natureza. Mas o homem é apenas um, tem apenas uma mente e deve organizar tudo de forma coerente. Suas crendices religiosas e suas crendices científicas (porque tem muita coisa na natureza que se acredita sem questionar, também!) devem estar em acordo e, sinceramente, eu procuro que as MINHAS estejam (pelo menos em minha mente).
Descartes era um cara sábio, embora um tanto antisocial. No "Discurso do Método" ele nos introduz o método científico, mas é nas "Regras para a Direção do Espírito" que as regrinhas do método são nitidamente encontradas. O cara duvida de tudo, pois não pode provar nada sem ter antes que conceber algo que alguém o tenha dito antes (a informação está verdadeira?) em seguida ele percebe que tudo pode estar errado e pode tudo ser uma grande farsa (até a própria existência). Assim ele concebe que não pode duvidar que ele está duvidando, ou seja, que ele está pensando. Então tem algo que é verídico: a dúvida existe. Ele logo induz que deve haver, necessariamente, alguém que está tendo a dúvida, alguém que a pensou. Logo se ele pensa, ele deve existir... Até aí nada de novo, mas o que quero destacar é que imediatamente depois de uma discussão semelhante à exposta ele procura PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS usando o seu método indutivo-dedutivo!!! Ele também achava que suas crendices religiosas não deviam entrar em desacordo com suas crendices científicas (chegando ao ponto de misturar os temas).
Religião o que é? Me peguei pensando nisto principalmente quando imaginava uma maneira de aumentar a carga horária de física nas escolas do ensino médio, pois no meu tempo havia uma disciplina com esta nome e ela tratava de coisas sociais, de formar um cidadão respeitador que esteja ciente de seus direitos e deveres e que se mobilize para garantí-los. Religião, em minha concepção, é algo muito mais grandioso que ir à igreja e acreditar em (D-d)eus(es): é acreditar nas outras pessoas, no social, nos feitos e desfeitos das outras pessoas; é se conceber como parte de um todo na humanidade e participar. Religião é uma forma de vida... Mas, senhoras e senhores, o que é a ciência senão isto? É uma filosofia que acreditamos que esteja correta porque nos provaram (...), mas uma religião que prova tudo o que diz deixa de ser religião? Acho que viver de domingo a domingo no departamento de física nas semanas de provas e rejeitar, por este motivo, milhares de convites de eventos e distrações é uma forma de vida também. É a forma de viver de muitos cientistas, é algo religioso...
A verdade... A verdade é o problema de tudo. Os cientistas provam as coisas, seguram "com as mãos" e chegam até a controlar localmente a natureza para verificar suas teorias; eles sabem que aquilo é verdade: vêem e sentem com os próprios sentidos. Os religiosos crêem com fé inabalável, irracional (ou não) e percebem que recebem os frutos de uma vida tranquila; eles sabem uma verdade. O problema é que os cientistas ficam deprimidos quando sabem que milhares de outras pessoas não se interessam em ver e sentir o que eles sabem e sentem e os religiosos ficam loucos para mostrar toda a grandiosidade da vida que levam a todos. Acabam não se batendo... Os religiosos afirmam que os cientistas são orgulhosos que se crêem acima de todos (não notando eles, porém, que esta afirmação só poderia sair de um orgulhoso que se crê acima dos outros...) e os cientistas desprezam os religiosos porque eles são endurecidos às observações óbvias e às engenhosas racionalidades que o homem pôde construir (sem notar contudo, que suas vidas muitas vezes são regidas por uma correria grande e um mata-mata [de quem chega a obter um efeito antes] que nunca aproveitam o que constroem eles mesmos em suas vidas; eles privilegiam o estudos das grandes e complicadas coisas fechando, diversas vezes, os olhos para as pequenas e simples coisas da vida; ficam endurecidos às coisas religiosas...). Nem 8 nem 88, please!
Espero que tenha chegado ao ponto, devido à coerência, de poder dizer que religião é essencial ao ser humano, embora tive que alterar o sentido fragilizado e comum dado à palavra... Essencial tanto quanto ciência, digo agora. Por que não se discute religião? Porque compreende modos normais de vibração de cada pessoa e cada um tem o seu! Porque inclui gostos e formas de ver que dependem da experiência prévia de cada um e isto é pessoal: religião é pessoal. Ninguém tem a mesma e exata concepção sobre qualquer que seja a idéia, ninguém pode ter a mesma religião neste sentido. O que vemos e que chamamos de igrejas e seitas e doutrinas nada mais é que o campo externo H que "magnetiza" as pessoas de forma que as idéias para elas fiquem o máximo possível alinhadas, o máximo possível igualmente distribuídas. Mas existe um campo intríseco devido principalmente aos "vizinhos mais próximos" que também participa do hamiltoniano total do sistema... Esta influência da interação "pessoa-pessoa"(analogia com a interação dipolo-dipolo) pode ser diminuída tanto quanto podemos chegar ao zero absoluto de temperatura, ou seja, sempre existe uma interação nossa, pessoal e intransferível. Note que existem várias formas de interagir com o campo externo H!! Você pode ser uma criatura "diamagnética" e rejeitar influência do campo, magnetizar-se-á em outro sentido; ou você pode ser uma criatura "ferromagnética" e se magnetizar aumentando o campo externo. Existem ainda algumas outras formas de interagir com ele... Assim você pode rejeitar a idéia que as igrejas lhe oferecem, entrar e participar propagando a doutrina ou pode interagir de outras formas.
Eu poderia, antes de escrever este texto que até ficou grandinho, simplismente ter ignorado o comentário de nosso amigo do DF como eu aconselharia, por sinal; mas o tema me interessa (deu pra notar?) e eu queria dar meu parecer sobre estas coisas. Na verdade este é um motivo meio distorcido, porque a verdade é que achei o comentário muito forte para aquela postagem que me pareceu algo do tipo "ah! não vamos deixar o dia de finados passar em branco...". No ensino médio minha professora de religião (ou terá sido de filosofia? se eu me lembro disso deve ter sido das duas matérias, rsrs) me disse que havia duas formas de criticar (ah! me lembrei, a professora de português também chegou a comentar): uma destrutivamente e outra construtivamente... Rapaz, no comentário houve até uma sugestão de suicídio!!! Isto não é, certamente, uma forma construtiva de se criticar... Acho que o nome do blog deixa bem claro quais as interferências que queremos ter aqui. Venho solicitar que este nome sabiamente e democraticamente escolhido venha ser considerado desde então.
Agora pra finalizar ao estilo Fábio: É provável que você leia o meu texto e se "magnetize" com ele. Mas a probabilidade que seu comportamento seja "diamagnético" ou "ferromagnético" depende de sua religião, rsrs.
Grande abraço a todos.

Um comentário:

elias disse...

Olá Thiago!
Pra quem ler minha postagem "E a morte" e os comentários talvês sintam que deveria responder a postagem de Cavalcanti. Eu constumo responder os comentários (seria bom q tds fizessem o msm). Ainda vou responder tal comentário e já deixei Cavalcanti de sobreaviso. Não fiz ainda por alguns fatores, do quais o sempre presente DF e um impulso maior de inspiração. :P

Muito boa sua msg, subretudo sua comparação com a interação entre spins! (eh mecânica estatística na véia!)